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A Operação Lava Jato avança. A prisão preventiva de João Vaccari Neto, o segundo tesoureiro do PT a parar atrás das grades, aproxima o lodaçal do padrinho de Dilma Rousseff e do núcleo duro do partido. Não é um preso qualquer. Ele sabe das coisas. Conhece o PT e o ex-presidente Lula por dentro.

A Operação Lava Jato é o resultado direto da solidez institucional da nossa democracia. É o lado bom da história. É consequência do insubstituível trabalho da imprensa independente e de qualidade. Todos são capazes de intuir que a informação tem sido a pedra de toque do processo de moralização dos nossos costumes políticos.

Um balanço sereno indica um saldo favorável ao empenho investigativo dos meios de comunicação. A imprensa não tem ficado no simples registro dos delitos. De fato, vai às raízes dos problemas. Daí as consistentes denúncias contra figurões da república. Grande é a nossa responsabilidade. Por isso, é preciso apurar com seriedade. Caso contrário, crimes análogos reaparecerão com a mesma intermitência das febres tropicais.

Há espaço, e muito, para o jornalismo de qualidade. Basta cuidar do conteúdo

A exposição da chaga, embora desagradável, é sempre um dever ético. Não se constrói um país num pântano. Impõe-se o empenho de drenagem moral. E só um jornalismo de buldogues, comprometido com a verdade, evitará que tudo acabe num esgar. Sabemos, todos, que há muito espaço vazio nas prisões do colarinho-branco. É preciso avançar, e muito, no trabalho investigativo. Os meios de comunicação existem para incomodar. A imprensa, sem prejuízo do permanente esforço de isenção, deve mostrar disposição para liderar. A mídia, festejada pela unanimidade nacional, necessita fazer um balanço honesto, precisa ter a coragem de também promover a sua CPI interna. Alguns desvios éticos rondam as nossas coberturas: a frivolização da notícia e o vírus do engajamento.

De algum tempo para cá, setores da grande imprensa manifestam preocupante ambiguidade ética. O que é sensacionalismo barato numa publicação popular é informação de comportamento nas respeitáveis páginas de alguns veículos da chamada grande imprensa. O que interessa não é a informação. O que importa é chocar. Ao tentar disputar espaço com o mundo do entretenimento, alguns setores da imprensa estão entrando num perigoso processo de autofagia. Esquecem que a frivolidade não é a melhor companheira para a viagem da qualidade. Pode até atrair num primeiro momento, mas, depois, não duvidemos, termina sofrendo arranhões irreparáveis no seu prestígio.

O leitor que confia na integridade dos jornais é o mesmo que em inúmeras pesquisas qualitativas nos envia alguns recados: quer, por exemplo, menos frivolidade e mais profundidade. Tradicionalmente fortes no tratamento da informação, alguns diários têm sucumbido às regras ditadas pelo mundo do espetáculo. Ao atribuírem à televisão e à internet a responsabilidade pela perda de audiência, partiram, num erro estratégico, para um perigoso empenho de imitação. A força da imagem, indiscutível e evidente, gerou um perverso complexo de inferioridade em algumas redações. Perdemos a capacidade de sonhar e a coragem de investir em pautas criativas. Há espaço, e muito, para o jornalismo de qualidade. Basta cuidar do conteúdo.

Na outra ponta do problema estão as recaídas no anacronismo do engajamento informativo. A neutralidade não é sinal de bom jornalismo. É, frequentemente, sintoma de covardia editorial. Mas a isenção, árdua e difícil, é uma meta que deve ser perseguida. A batalha da imparcialidade enfrenta a sabotagem da manipulação, da preguiça profissional e da incompetência arrogante. A apuração aparente é uma das maiores agressões à imprensa de qualidade. Matérias previamente decididas em guetos engajados buscam a cumplicidade da imparcialidade aparente. A decisão de ouvir o outro lado não se apoia na busca da verdade, mas num artifício para transmitir um simulacro de imparcialidade. Busca-se, no fundo, a confirmação de uma tese. Isso não é jornalismo.

O Brasil depende, e muito, da qualidade técnica e ética da sua imprensa. O bom jornalismo é insubstituível.

Carlos Alberto Di Franco é jornalista.
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