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 | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Muitos leitores, aturdidos com a extensão do lodaçal que se vislumbra nos escândalos reiteradamente denunciados pela imprensa, cobram um balanço do desempenho técnico e ético do jornalismo. Todos são capazes de intuir que a informação tem sido a pedra de toque do processo de moralização dos nossos costumes políticos. Alguns consideram que a imprensa estaria extrapolando o seu papel e assumindo funções reservadas à polícia e ao Poder Judiciário. Outros, ao contrário, preocupados com lamentáveis precedentes de impunidade, gostariam de ver repórteres transformados em juízes ou travestidos em policiais.

Um balanço sereno, no entanto, indica um saldo favorável ao empenho investigativo dos meios de comunicação. O despertar da consciência da urgente necessidade de uma revisão profunda da legislação brasileira, responsável maior pelo clima de estelionato e banditismo nos negócios públicos, representa um serviço inestimável prestado pelo jornalismo deste país. A imprensa não tem ficado no simples registro dos delitos. De fato, vai às raízes dos problemas. Daí as consistentes denúncias contra figurões da política, o desnudamento dos esquemas de corrupção, que, felizmente, já começa a se traduzir em algumas condenações importantes.

A informação tem sido a pedra de toque do processo de moralização dos nossos costumes políticos

A Polícia Federal, o Ministério Público e o Judiciário estão escrevendo um belo capítulo da nossa história. E os jornais cumpriram o seu papel. Rasgaram a embalagem marqueteira e mostraram o produto real. Lula, Dilma, Sérgio Cabral, Eduardo Cunha e inúmeros políticos, despidos das lantejoulas dos publicitários da mentira, deixaram uma imagem lamentável. Sem os jornais não teríamos chegado ao divisor de águas.

O mensalão, que Lula pateticamente insistiu em dizer que não existiu, explodiu no novo e gigantesco assalto planejado pela máfia que tomou conta do país: o petrolão. Alguém imagina que o saldo extraordinário da Operação Lava Jato teria sido possível sem uma imprensa independente? Os envolvidos no maior escândalo de corrupção da nossa história podem fazer cínicas declarações de inocência, desmentidas por um conjunto sólido de provas. Mas a verdade grita na consciência da cidadania.

Sem jornais a democracia não funciona. O jornalismo não é antinada. Mas também não é neutro. É um espaço de contraponto. Seu compromisso não está vinculado aos ventos passageiros da política e dos partidarismos. Sua agenda é, ou deveria ser, determinada por valores perenes: liberdade, dignidade humana, respeito às minorias, promoção da livre iniciativa, abertura ao contraditório. O jornalismo sustenta a democracia não com engajamentos espúrios, mas com a força informativa da reportagem e com o farol de uma opinião firme, mas equilibrada e magnânima. A reportagem é, sem dúvida, o coração da mídia.

Leia também: A Lava Jato e as eleições (editorial de 29 de novembro de 2017)

Leia também: Uma imprensa sem amarras (artigo de Nelson Wiliams, publicado em 30 de abril de 2016)

As redes sociais e o jornalismo cidadão têm contribuído de forma singular para o processo comunicativo e propiciado novas formas de participação, de construção da esfera pública, de mobilização do cidadão. Suscitam debates, geram polêmicas (algumas com forte radicalização) e exercem pressão. Mas as notícias que realmente importam, isto é, que são capazes de alterar os rumos de um país, são fruto não de boatos ou meias-verdades disseminadas de forma irresponsável ou ingênua, mas resultam de um trabalho investigativo feito dentro de rígidos padrões de qualidade, algo que está na essência dos bons jornais.

Grande é a nossa responsabilidade. A exposição da chaga, embora desagradável, é sempre um dever ético. Não se constrói um país num pântano. Impõe-se o empenho de drenagem moral. E só um jornalismo de buldogues, comprometido com a verdade, evitará que tudo acabe num esgar. Sabemos, todos, que há muito espaço vazio nas prisões do colarinho-branco. É preciso avançar, e muito, no trabalho investigativo. Os meios de comunicação existem para incomodar. Um jornalismo cor-de-rosa é socialmente irrelevante.

O Brasil depende, e muito, da qualidade técnica e ética da sua imprensa. A opinião pública espera que a mídia continue cumprindo a sua missão.

Carlos Alberto Di Franco é jornalista.
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