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Todo profissional que já precisou selecionar colaboradores e estagiários percebeu a dificuldade que é encontrar candidatos com boa escrita e ortografia correta. Uma pesquisa realizada pelo Núcleo Brasileiro de Estágio (Nube) e divulgada dias atrás evidenciou o que já é perceptível no mercado: testes de português e ortografia têm funcionado como filtros, pois eliminam quase metade dos candidatos já na primeira etapa dos processos seletivos.

“Por que o Português ainda é o maior reprovador em processos seletivos?” foi a pergunta analisada por jovens de 15 a 26 anos, faixa etária mais afetada nas reprovações. A maioria deles, 32,75%, reconhece que as pessoas têm preguiça de ler.

As redes sociais funcionam como agente de disseminação da linguagem abreviada e informal

A quarta edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, realizada pelo Instituto Pró-Livro (IPL), confirma essa estatística. Quase metade da população brasileira (44% dos entrevistados) não tem o hábito de leitura. Porém, entre 2007 e 2015, a parcela de brasileiros que se considera leitora subiu um ponto percentual, de 55% para 56%.

Além de mostrar como os livros estão sendo deixados de lado, a pesquisa revela mais. Quando os pesquisados foram perguntados sobre o que gostam de fazer no tempo livre, 47% responderam que utilizam a internet. Pode parecer óbvio e até mesmo esperado, porém, comparando com o resultado em 2011 (27%), esse número quase dobrou.

Ou seja, além de não lerem, os brasileiros passam a maior parte do seu tempo livre consumindo conteúdo disponível na internet, que pode ser positivo para o processo de aprendizagem ou não. As redes sociais funcionam como agente de disseminação da linguagem abreviada e informal. De acordo com o Nube, quase 29% dos jovens entrevistados alegam ter se acostumado com a forma de escrita característica desse universo.

A leitura e a interpretação correta são fundamentais em todo o processo de aprendizagem e em todos os níveis educacionais, devendo ser trabalhada, estimulada e exigida em todas as disciplinas. Um aluno que tem dificuldades na leitura com certeza não compreenderá um enunciado de qualquer disciplina e, por consequência, não desenvolverá o que foi solicitado. Isso se aplica também para o ambiente corporativo.

Esta realidade, constatada por essas e outras pesquisas não mencionadas, convida a escola e professores para um novo desafio: como reinserir o hábito da leitura em uma geração na qual os atrativos tecnológicos são tão intensos e presentes? O uso das tecnologias em sala de aula é o primeiro passo, pois os alunos nascem e crescem utilizando a tecnologia em suas casas e ela precisa estar presente também na rotina de sala de aula. O segundo movimento é construir o hábito da leitura a partir de pequenos fragmentos de textos para que eles vejam isso como forma de lazer. Por último, é necessário aumentar a complexidade da leitura, permitindo ao aluno inferir conclusões sobre textos mais elaborados e que são referências da nossa cultura. Não apenas as obras cobradas nos vestibulares, mas sim todas aquelas que fazem parte da realidade que o aluno vive, tais como igreja, comunidade e grupos.

O grande desafio para a escola e para os professores está em tornar o hábito da leitura uma realidade presente nas aulas. Reverter os índices mostrados nas pesquisas é uma ação de médio e longo prazo, e o esforço de todos é o único caminho.

Élcio Miguel Prus é coordenador-geral do ensino médio integrado do Tecpuc.
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