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| Foto: Evaristo Sá/AFP

Lula da Silva, o chefão do PT, lidera a construção de um roteiro de suposta injustiça e perseguição política. O ex-presidente manifesta crescente irritação com o trabalho da imprensa independente. Seus sucessivos e reiterados ataques à mídia, balanceados com declarações formais de adesão à democracia, não conseguem mais esconder a verdadeira face dos que querem tudo, menos democracia. Para Lula, um político que deve muito à liberdade de imprensa e de expressão, imprensa boa é a que fala bem. Jornalismo que apura e opina com isenção incomoda e deve ser extirpado.

Como salientou recente editorial do jornal O Estado de S.Paulo, o figurino de campeão da democracia não cai bem em um líder político que incita seus seguidores a odiar quem não pertence à patota e quem procura revelar o que ele gostaria de esconder, isto é, a imprensa livre e independente. Definitivamente não é democrata quem pretende, como anunciou, “fazer a regulação dos órgãos de imprensa”, um eufemismo nada sutil para um declarado programa de controle estatal dos meios de comunicação. E Lula, no mesmo discurso em que denunciou o suposto autoritarismo de seus adversários, disse que “a gente [ele e Dilma] foi muito condescendente com os meios de comunicação” e “a gente não pode permitir que nove famílias continuem dominando a comunicação e inventando mentiras”. Lula tentou, mais de uma vez, algemar a liberdade de imprensa e de expressão. Em 2006, o governo Lula patrocinou a proposta de criação do Conselho Federal de Jornalismo, cujo objetivo era “orientar, disciplinar e fiscalizar” o exercício da profissão de jornalista. A proposta foi rechaçada por diversos setores da sociedade em razão da óbvia tentativa de cerceamento da livre manifestação do pensamento.

Lula tentou, mais de uma vez, algemar a liberdade de imprensa e de expressão

Para Lula, a responsabilidade pelo descalabro petista – que inclui a prisão de vários dirigentes por corrupção, a condenação do próprio ex-presidente e o impeachment de Dilma Rousseff por crime de responsabilidade – recai em primeiro lugar na imprensa, que insiste em cumprir o seu dever: noticiar os escândalos que brotam como cogumelos no terreno do PT.

A biografia de Luiz Inácio Lula da Silva foi construída graças aos seus méritos pessoais e aos amplos espaços que a democracia oferece a todos os cidadãos. Mas o poder fascina e confunde. E os bajuladores, de ontem, de hoje e de sempre, são o veneno da democracia. Preocupa, e muito, o entusiasmo de Lula, de Dilma Rousseff e de seu partido com modelos políticos capitaneados por caudilhos. Cuba e Venezuela, ditaduras cruéis e antediluvianas, são o modelo concreto da utopia petista.

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Como já escrevi neste espaço opinativo, não é de hoje a fina sintonia do petismo com governos autoritários. O Foro de São Paulo, entidade fundada por Lula e Fidel Castro, entre outros, e cujas atas podem ser acessadas na internet, mostra que não há acasos. Assistiu-se, de fato, a um processo articulado de socialização do continente de matriz autoritária. E o ex-presidente foi um dos líderes, talvez o mais expressivo, dessa progressiva estratégia de estrangulamento das liberdades públicas. A fórmula “Lulinha paz e amor” é pura estratégia de marketing. Lula, acuado pela Justiça, mostra sua verdadeira face: o rosto do caudilhismo.

Cabe à imprensa, num momento grave da história da democracia, denunciar a tirania que se oculta sob o véu do vitimismo. É preciso mostrar as estratégias gramscianas de tomada do poder. E o melhor modo de fazer o contraponto, urgente e necessário, é sair da armadilha da radicalização e fomentar a discussão das políticas públicas.

O combate à corrupção e o enquadramento de históricos caciques da política nacional – alguns sofrendo a justa punição pelos crimes cometidos e o ostracismo do poder; e outros, no ocaso do seu exercício – só são possíveis graças à força do binômio que sustenta a democracia: imprensa livre e opinião pública informada.

Carlos Alberto Di Franco é jornalista.
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