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Menos pode ser mais, mas a Fifa não sabe disso. Os cartolas de Zurique sabem somar, somar e somar. Como aumentar o faturamento da Copa do Mundo? Como ganhar mais força política em um momento em que a entidade está fragilizada como nunca? Some. Adicione participantes na Copa do Mundo, suba de 32 para 48. São mais jogos e mais turistas e mais torcedores e mais direitos de tevê e mais votos de dirigentes de mais países. E assim será em 2026, em um Mundial ainda sem sede definida.

A entidade até foi engenhosa ao pensar em um sistema de disputa que mantenha o número de partidas por equipe, de datas do torneio todo e de cidades-sede necessárias. Mas mostrando sempre uma paixão pelos números, esquecendo a essência de tudo: o esporte, a qualidade do jogo, o que representa a Copa do Mundo no imaginário do torcedor.

A conquista de uma vaga na Copa se banaliza com o aumento de equipes de baixo nível técnico

Um bem ao futebol mundial

Os investimentos feitos pelos chineses assustam até os europeus e, certamente, em 2026 o planeta terá um novo cenário global

Leia o artigo de Zair Candido de Oliveira Netto, coordenador do curso de Educação Física da Universidade Positivo

O Mundial é aquele momento especial em que o planeta para e fica vendo futebol. E isso ocorre porque é uma competição especial, que resgata um histórico de conquistas dos países tradicionais, que representa a validação nacional das equipes periféricas e um sonho quase inatingível para os pequenos (e, quando esse sonho é alcançado, não há nada mais especial).

Muito disso se perde com um torneio inchado. A conquista de uma vaga se banaliza com o aumento de equipes de baixo nível técnico. Se a Copa de 2014 já tivesse 48 seleções, com a divisão de vagas que tem sido especulada, os participantes extras seriam Burkina Faso, Catar, Egito, Etiópia, Islândia, Jamaica, Jordânia, Nova Zelândia, Omã, Panamá, Suécia, Tunísia, Ucrânia, Uzbequistão e Venezuela, com Guatemala, Iraque, Peru e Senegal lutando por mais dois lugares via repescagem. Convenhamos, o Mundial do Brasil provavelmente não seria tão espetacular em campo se esses times tivessem entrado na disputa.

O pior é que a Fifa ainda sinaliza para a adoção de grupos com três seleções na primeira fase, um convite à marmelada. Se o time A empata por 0 a 0 com o B e o C nas primeiras partidas, B e C se classificam com um 1 a 1 para lá de conveniente para ambos. Esse é o exemplo mais básico, mas há várias outras formas de as equipes B e C entrarem em campo sabendo que as duas passarão com um placar específico. E quem conhece a história das Copas – como os dirigentes da Fifa deveriam conhecer – sabe que isso já aconteceu antes.

Claro, o futebol está se espalhando pelo mundo e, em 2026, mais países deverão ter nível técnico minimamente competitivo. Por mais que o formato com 32 países seja interessante, talvez ele soe muito restritivo em dez anos, como os 16 eram nos anos 70 e os 24, na década de 1990. Mas a Fifa poderia ampliar o torneio de forma mais gradual. Por exemplo, dando 24 vagas diretas e definindo as últimas oito em uma fase preliminar, uma espécie de “pré-Copa” com 16 equipes buscando a sobrevivência na semana anterior à abertura oficial. O interesse seria alto, serviria de aquecimento para os organizadores do Mundial e até ajudaria a balancear dentro de campo quantos classificados cada continente teria.

Mas a Fifa prefere contas simples: só a adição, ainda que isso resulte em subtração de qualidade de jogo e de interesse do torcedor.

Ubiratan Leal é jornalista e comentarista esportivo.
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