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O mercado do petróleo está passando por um momento de colapso nos preços, cada vez mais próximos dos US$ 20/barril. Na realidade, em 43 anos o mercado de petróleo já passou por três choques de preços (1973, 1979 e 2008) e por três contrachoques (1986, 1998 e, agora, 2016).

O atual contrachoque lembra o de 1986, quando ocorreu (como agora) uma abundância de petróleo no mercado e (também como agora) a Arábia Saudita resolveu não diminuir a produção para, com isso, quebrar os produtores americanos. A diferença é que agora, diferentemente daquela época, a produção americana está crescendo através do shale oil e não de petróleo convencional, como aquele produzido no mar.

O shale apresenta características muito peculiares, como baixo investimento e entrada em produção rápida. Um campo de shale custa em torno de US$ 10 milhões, enquanto o petróleo no mar custa bilhões de dólares. O campo de shale Eagle Ford, no Texas, foi descoberto em 2008 e, cinco anos depois, produzia 1 milhão de barris/dia. Não há dúvida de que os preços do barril, ao atingir valores inferiores a US$ 30, vão levar ao fechamento de muitos campos de shale nos Estados Unidos, mas qualquer recuperação nesses preços pode trazê-los de volta rapidamente. Ou seja, o shale passou a regular o mercado de petróleo.

Talvez nunca mais vejamos o petróleo a US$ 100 o barril

Outro ponto importante que faz com que os preços do petróleo permaneçam em queda é a questão geopolítica. Com o fim das sanções ao Irã, ninguém sabe ao certo qual volume esse país pode colocar de imediato no mercado, já que estamos falando do país detentor da quarta maior reserva de petróleo do mundo. No contrachoque de 1986, os preços do barril chegaram a US$ 10, se recuperaram um pouco em 1990, com a guerra do Kuait, e tornaram a desabar em 1998 com as crises russa e asiática. Com isso, ficamos com preços baixos do petróleo por mais de uma década.

A história tende a se repetir agora? Difícil responder. Mas a tendência é de que vamos conviver com preços baixos por um bom tempo e, quem sabe, nunca mais veremos o petróleo a US$ 100 o barril. Por quê? Pelas características do petróleo americano, pelas questões geopolíticas, porque o mundo não quer mais consumir tanto petróleo por razões ambientais. Ou seja, a oferta deve predominar sobre a demanda, o que significa preços baixos.

E a Petrobras? Enquanto a Petrobras é obrigada a pagar juros em dólares de 12% ao ano para financiar seus investimentos, petrolíferas como a Shell e a Exxon pagam apenas 2% ao ano. Isso mostra que a situação financeira da Petrobras vai além do atual colapso nos preços do petróleo.

Esse cenário de preços baixos do petróleo, associados a uma precária situação econômico-financeira, vai obrigar a Petrobras a cortes drásticos de investimentos, redução de custos e venda de ativos. A consequência principal desses cortes é uma completa desmobilização de toda a cadeia de fornecedores, com implicações sérias no desemprego e na renda nas regiões afetadas, além de uma drástica revisão das metas de produção de petróleo para 2020.

A diretoria atual da empresa anunciou em 2015 um plano de desinvestimentos pelo qual seriam vendidos ativos no valor de US$ 15 bilhões no biênio 2015/2016 e US$ 42,6 bilhões em 2017/2018. O fato é que em 2015 a empresa só conseguiu vender US$ 700 milhões. A explicação é de que, com o preço do barril baixo, o mercado está vendedor, além de todas as incertezas sobre o futuro da economia brasileira. O governo terá ainda de enfrentar os sindicatos que o apoiam, mas que são totalmente contra a venda de qualquer ativo, bem como contra o corte de custos, em particular na folha salarial.

Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), é especialista do Instituto Millenium.
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