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| Foto: Nicholas Kamm/AFP

Contrariando as pesquisas de opinião, Donald Trump será o próximo presidente dos Estados Unidos e o será com maioria na Câmara e no Senado. Tal fato fez o mundo segurar a respiração. Não é para menos. Trump baseou a sua campanha na xenofobia, no protecionismo e no medo.

No plano interno, Trump ganhou, por um lado, por causa da sua opositora, Hillary Clinton. Para diferentes segmentos da população, ela não tinha apelo. Para aqueles que votaram em Bernie Sanders nas primárias democratas, ela não entusiasmava. Ao contrário, representava a ligação com as grandes corporações que Sanders combatia. Para outra parte da população, ela não era confiável pois havia usado sua conta pessoal de e-mail ao desempenhar funções como secretária de Estado. A reabertura da investigação desse caso pelo FBI, dias antes da votação, reforçou esse sentimento.

No plano interno, Trump ganhou, por um lado, por causa da sua opositora, Hillary Clinton

Por outro lado, Trump vocalizou as insatisfações do americano médio, que viu a sua renda e oportunidades de emprego reduzirem. Hillary perdeu no coração industrial estadunidense. Assim, estados que haviam levado Barack Obama à presidência em 2008 e o mantido por lá em 2012 elegeram um republicano. A mudança em estados como Iowa, Michigan, Ohio, Pensilvânia, Wisconsin e Flórida foi determinante.

A eleição de Trump evidencia a face mais sombria da principal potência econômica e militar do mundo. Contudo, percebê-la como um fenômeno estritamente estadunidense é errôneo. Sua vitória é um sintoma do nosso tempo. Ela é mais um contundente indício das graves consequências do neoliberalismo enquanto ideologia dominante no cenário internacional. Ao aumentar a pobreza, a desigualdade, a concentração de renda e o desemprego pelo mundo, inclusive em países centrais, abre-se a oportunidade para que grupos nacionalistas e xenófobos canalizem as mais variadas frustrações e as capitalizem em diferentes eleições pelo globo. É míope dissociar a vitória de Trump do processo de longo prazo que levou à crise financeira internacional de 2008; ao crescimento do populismo nacionalista da extrema-direita europeia, do Ukip no Reino Unido e de Marine Le Pen na França; e ao Brexit.

Tal vitória, claro, tem consequências para a América Latina. A primeira delas tem a ver com a região como um todo. Mais protecionismo nos EUA afeta diretamente a região, pois ela é essencialmente exportadora e tem nos Estados Unidos um dos principais destinos de seus produtos. Individualmente, as relações tendem a ser tensas com México e distantes com Cuba. Tensas com o México por causa da possível revogação do tratado de livre comércio, da deportação de imigrantes e da construção de um muro entre os países. Com Cuba, é de se esperar um retrocesso no processo de reaproximação iniciado por Obama. Isso danifica as relações com todos os outros países da região, dada a centralidade do tema na área.

Normalmente, espera-se que os eleitos cumpram sua plataforma eleitoral. Com Trump é o inverso. A expectativa de que ele cumpra o prometido traz medo à população mundial.

Ramon Blanco, doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Coimbra, é professor da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) e docente do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política na Universidade Federal do Paraná (UFPR).
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