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No calendário católico este domingo é o chamado Domingo de Pentecostes. Em todas as igrejas do mundo serão proclamados os mesmos textos bíblicos. E o grande tema é o Espírito Santo. De quem se fala e o que se diz com esta expressão? Tentemos uma explicação, ainda que em poucas linhas.

Partamos de um exemplo: a linguagem do amor. Quando uma pessoa ama outra são muito frequentes as expressões densas de simbologia. Soam adjetivações do tipo “minha flor”, “minha metade”, “boneca”, “príncipe”, e muitos mais. Quem a pronuncia não quer falar de conceitos (flor) ou de quantidade (metade). O que faz é conferir um valor simbólico às palavras, de modo que elas se prestem a dar voz aos afetos, aos encantos.

Quem odeia o faz movido pelo ódio. Quem ama é movido pelo amor

Algo semelhante se verifica quando queremos nos referir às experiências de fé. Assim dizemos que Deus é “pai”, que seu amor nos “reconstrói”, que sua palavra nos “convoca”... Quanto à palavra, “espírito”, também é preciso compreendê-la partindo do nosso linguajar. Ela provém da língua grega. Originalmente significa ar. Os antigos não sabiam que inspiramos oxigênio; que expiramos gás carbônico. Desconheciam que temos pulmões. Mas percebiam que sem o ar todos nós morremos. Logo, o ar é vida. Se faltar o ar prevalece a morte.

Vamos, pois, ao passo seguinte. Assim como o corpo, que sem o ar não vive, também a pessoa de fé, a pessoa que crê, somente pode manter-se nos caminhos de Deus se deixar inspirar sua interioridade pela “voz”, ou pelo “ar” de Deus. Um bom oxigênio fortalece, faz bem à corporeidade humana. O Espírito de Deus sustenta, faz bem à alma humana. E aqui falamos do Espírito Santo. Sim, a linguagem é simbólica, mas não menos evocativa, ou menos verdadeira. Volto a lembrar, se até para falar do amor humano apelamos para o simbólico, muito mais densa de simbologia é a palavra humana para traduzir o “ar”, ou o afeto, ou “encanto” de Deus. E o nomeamos por “Espírito Santo”.

São muitos os eventos bíblicos que reportam o influxo do Espírito de Deus. Não se tratava apenas de ideias, de intelecções ou de abstrações. Na cultura bíblica o ar e o vento identificavam-se. Era a mesma realidade. Ora, não existe vento parado. É movimento. Tampouco a pessoa inspirada pelo Espírito Santo é apática, desmotivada, abatida. Quem é por ele impregnado age, reage com disposições proativas em direção às escolhas, aos critérios e aos valores que nos identificam como discípulos do Senhor.

Quem quiser participar de uma missa neste domingo, vai celebrar com a comunidade o dom do Espírito Santo. Aqueles primeiros discípulos de Jesus, agora já sem a companhia física do seu mestre, de temerosos e fugidios que eram, tornaram-se testemunhas intrépidas das boas notícias da parte de Deus. Apesar das resistências que encontravam, apesar das perseguições, não lhes faltava a coragem e a alegria de viver para levar aos outros o que experimentaram de amor e de paz ao aderir a Jesus Cristo. Eram movidos pelo Espírito Santo.

Todos nós somos “movidos” por algum espírito. Quem odeia o faz movido pelo ódio. Quem ama é movido pelo amor. E quem ama porque crê é movido pelo espírito de quem crê. E eu creio no Espírito Santo.

Dom José Antonio Peruzzo, arcebispo de Curitiba.
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