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O ambiente econômico brasileiro vem registrando rápida e drástica deterioração das variáveis determinantes do comportamento do mercado de trabalho, nos primeiros meses de 2015. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, realizada pelo IBGE em 3,5 mil municípios, revela subida do desemprego de 6,5% da população economicamente ativa (PEA), no último trimestre de 2014, para 8,1% da PEA, no trimestre compreendido entre março e maio de 2015. Embora tenha permanecido estável, na mesma base de cotejo, a remuneração média do trabalho declinou 0,7%, entre janeiro-março e março-maio de 2015, passando de R$ 1.877/mês para R$ 1.863/mês.

Na mesma linha, a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), também do IBGE, captura, na média dos redutos metropolitanos de Salvador, Recife, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, uma trajetória de impulsão do desemprego e queda dos rendimentos. A taxa de desocupação saltou de 4,8% da PEA, em 2014, para 6,1% da PEA, entre janeiro e maio de 2015. Enquanto isso, a renda real do pessoal ocupado, ao atingir R$ 2.117,10 em maio de 2015, expõe decréscimo de 1,9% e 5% frente ao mês anterior e ao mesmo mês de 2014, respectivamente.

Os centros econômicos mais afastados da atmosfera metropolitana também sentiram a intensificação das condições adversas

Considerando que a Pnad Contínua possui envergadura nacional e a PME reflete parte da dinâmica metropolitana, o confronto entre os resultados de ambas oportuniza a formulação da pressuposição de que o quadro de instabilidade vivido presentemente pela economia nacional vem atingindo de maneira mais contundente as bases econômicas operantes no interior do país, fenômeno reproduzido em desemprego maior e renda menor.

Por certo, a rota cadente do ciclo de negócios é generalizada, praticamente não poupando ramos de atividade ou localidades. Aliás, é interessante assinalar que estágios de instabilidade do capitalismo reservam reduzidas frações para o funcionamento de “ilhas de prosperidade” em meio a fortes tempestades oceânicas.

Nessa perspectiva, a metrópole vem acusando, de maneira direta, a perda de embalo dos eixos de crescimento, sustentados no consumo privado e movidos a crédito, emprego formal e salários, estes referenciados aos ganhos reais do salário mínimo. Os segmentos mais afetados pela radical reversão da direção de pleno emprego, verificada a partir do segundo trimestre de 2014, foram fabricação de bens de capital e de consumo duráveis, construção civil, comércio e serviços.

De seu turno, os centros econômicos mais afastados da atmosfera metropolitana também sentiram a rápida conformação e intensificação dessas condições adversas, agravadas por dois grupos de elementos específicos, sintetizados na diminuição da corrente de renda da cadeia produtiva articulada ao agronegócio e na retração dos investimentos, notadamente em infraestrutura.

A performance menos animadora do complexo rural, apesar do acréscimo de 6,7% do volume de produção das lavouras temporárias e permanentes projetado pelo IBGE para 2015, pode ser imputada essencialmente ao recuo das cotações internacionais das commodities agrícolas, estimado em 16%, em relação a 2014, pelo Deagro, da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), com as diminuições mais acentuadas experimentadas por soja (-22,2%), trigo (-16,4%) e milho (-10%).

A par disso, a compressão do vetor infraestrutural está intimamente atrelada ao expressivo decréscimo das obras destinadas à ampliação da capacidade e melhoria da eficiência da oferta de energia, comunicações, armazenagem e logística de transportes, subordinadas, em grande medida, às iniciativas e disponibilidade de verbas do setor público e de uma teia de construtoras e empreiteiras a ele vinculada, envolvida em incontáveis episódios de corrupção, em criteriosa apuração pela Polícia Federal e outras instâncias institucionais. Sem contar os efeitos da ingerência governamental no setor elétrico e a interferência negativa do ajuste recessivo, em implementação pelo Ministério da Fazenda.

Gilmar Mendes Lourenço, economista, é professor e editor da revista Vitrine da Conjuntura, da FAE Business School.
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