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Ao manifestar crescente ceticismo com respeito à evolução da situação econômica e política brasileira, os mercados têm sido impiedosos na feitura de cenários de curto e médio prazo, sintetizados em variação negativa de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) e subida média de preços superior a 8% em 2015, conformando um panorama perverso de estagflação: recessão com inflação elevada e ascendente.

Em se confirmando tais previsões, o governo da presidente Dilma passará a integrar o seleto grupo dos três piores desempenhos econômicos da história republicana, registrando acréscimo de 1,5% ao ano do PIB entre 2011 e 2015, sendo melhor apenas que as performances de Floriano Peixoto (-7,5% a.a.) e do período Collor (-1,3% a.a.).

O incremento dos níveis de atividade no governo Dilma será de menos da metade do experimentado na gestão Lula (4% a.a., entre 2003 e 2010) e menor, por exemplo, que o verificado no decênio perdido dos anos de 1980 (1,6% a.a.) e no intervalo 1999-2002 (2,3% a.a.). Lembre-se que este último correspondeu ao segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, fase da construção dos fundamentos macroeconômicos que vigoraram até 2008 – metas de inflação, superávits fiscais primários e câmbio flutuante – e época sugerida como desastrosa pela retórica petista.

A espiral de preços vem esboçando um comportamento cada vez mais dissociado da dinâmica de mercado

O mais gritante, porém, é que a construção dos pilares para a virada do jogo encontra-se em estágio embrionário e emitindo sinais de insuficiência para a promoção do reequilíbrio das finanças públicas, a diminuição da vulnerabilidade externa e a articulação de uma agenda virtuosa na direção do crescimento duradouro.

O que há é um esforço de austeridade fiscal e monetária, capitaneado pelo Ministério da Fazenda e pelo Banco Central, baseado predominantemente na ampliação da transferência de recursos da órbita privada para o governo, através da elevação da carga de impostos e de juros, o que, por certo, aprofundará o processo recessivo em curso desde o segundo trimestre de 2014, sem fazer nem sequer cócegas na inflação.

Isso porque a espiral de preços vem esboçando um comportamento cada vez mais dissociado da dinâmica de mercado – caracterizada pelo desenho da matriz de custos e de demanda –, incorporando elementos ligados à multiplicação da fragilidade fiscal e financeira do setor público e à exacerbação dos elementos de perturbação, acoplados às pressuposições de que o pior estaria por vir.

No tocante ao desajuste das contas com o resto do mundo, nada vem sendo feito. Na verdade, alguma correção parcial, representada pela depreciação do real, advém de fatores externos, brotados da consistente valorização global do dólar, e dos distúrbios domésticos provocados pela postura (ou ausência dela) de um governo que ainda não começou, seis meses depois de vencida a batalha da reeleição.

O que se vê é uma administração enfraquecida e acuada, com níveis de rejeição popular semelhantes aos do presidente Collor por ocasião da instauração do impeachment, em setembro de 1992, e refém de três correntes: a do ajuste fiscal, liderado pelo Ministro da Fazenda; a do PMDB rebelde, comandado por Cunha, Renan e Temer; e a do lulopetismo e seus braços da CUT, UNE e MST.

Nessas circunstâncias, a tarefa de fixação das âncoras para a recuperação de um ambiente saudável à realização de negócios, fruto da implantação das reformas estruturais, começando pela tributária, passando pela previdenciária e encerrando com o lançamento de um novo pacto federativo, fica definitivamente adiada.

Gilmar Mendes Lourenço, economista, é professor e editor da revista Vitrine da Conjuntura, da FAE Centro Universitário.
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