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Em época de eleição constatamos algo que se tornou peculiar na política paranaense nas últimas décadas. As disputas pelo Poder Executivo do estado e da capital paranaense ficam em torno de dois grupos políticos que, eleição após eleição, se revezam no poder. O elo entre eles ocorre por meio de uma aproximação ora partidária, ora feita por ligações familiares.

No artigo “O governo do Paraná sem renovação” sugeri ao leitor que, desde 1983, dois grupos políticos se alternam no governo do Estado e na Prefeitura de Curitiba. De um lado, o grupo liderado pelo político falecido José Richa que governou entre 1983 a 1986 e foi sucedido pelos colegas partidários Alvaro Dias (1987/1991), Roberto Requião (1991/1994) e Mário Pereira (1994/1995). O outro grupo descende do político aposentado Jaime Lerner, governador entre 1995 a 2003. A partir de então o Paraná teve o retorno de Roberto Requião com dois mandatos e foi sucedido pelo governador Beto Richa reeleito em 2014, filho de José Richa.

É natural atribuirmos tal revezamento entre os dois grupos nos poderes executivos estadual e municipal como reflexo da falta de renovação na elite política local

Esses mesmos nomes que se alternam no Executivo estadual também se revezam de maneira direta ou indireta no cargo de prefeito de Curitiba. Do grupo de José Richa, passou pela prefeitura Maurício Fruet, Roberto Requião e Beto Richa e, do grupo lernista, o próprio Lerner seguido por Rafael Greca e Cássio Taniguchi. Estes grupos também têm representantes disputando a eleição de outubro próximo: Rafael Greca, Gustavo Fruet, o atual prefeito e filho de Mauricio Fruet, e Requião Filho, filho de Roberto Requião. A candidata recém-eleita deputada Maria Victoria é filha da atual vice-governadora do governo Beto Richa, Cida Borghetti e de Ricardo Barros, ex-secretário do atual governador. Hoje correm por fora na disputa, e podem subir na intenção de voto do eleitor, assim que as campanhas tomarem as ruas da capital, os candidatos Ademar Pereira, Afonso Rangel, Ney Leprevost, Tadeu Veneri e Xênia Mello.

É natural atribuirmos tal revezamento entre os dois grupos nos poderes executivos estadual e municipal como reflexo da falta de renovação na elite política local. Se usarmos como critério de análise o índice de renovação na Câmara de Vereadores de Curitiba, veremos que ela atingiu em 2012 um bom porcentual de 48%. Entretanto, entre os novos vereadores eleitos estão filhos de políticos, assessores parlamentares, políticos que já ocuparam o cargo de vereador em outras legislaturas, políticos que ocuparam pastas nas secretarias municipais e estaduais. Isso pode indicar que, por um lado, se renovam nomes e não ideias ou projetos políticos. E, por outro lado, quando de fato surgem novas lideranças, elas ficam pelo caminho porque enfrentam uma acirradíssima disputa interna pelo poder, quando chegam aos partidos em que prevalecem os interesses dos tradicionais grupos políticos.

Doacir Gonçalves de Quadros é professor de Ciência Política e do mestrado acadêmico em Direito do Centro Universitário Internacional Uninter
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