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Até recentemente, a manutenção do nível de emprego era apontada como o ponto forte do governo Dilma, e o contraste entre o desempenho do mercado de trabalho e o restante da economia era tão forte que chegaram a propor a existência de um paradoxo do emprego. Tal paradoxo decorreria da aparente contradição entre o baixo crescimento e o alto nível de emprego. A sabedoria convencional diz que, se existe demanda, a economia cresce e gera empregos; do contrário, a economia para de crescer e aparece o desemprego. Como explicar uma economia que não cresce e na qual, mesmo assim, o desemprego não aparece?

A pergunta tem várias respostas. As mais imediatas aparecem quando se observa que nos últimos tempos a taxa de desemprego continuou baixa mais por causa da saída de pessoas do mercado de trabalho do que pela criação de novas vagas. Tal saída é devida a fatores demográficos e a mudanças de hábitos que não são necessariamente um problema para a economia. Mas demografia e mudanças de hábitos não explicam, sozinhas, a atual queda no emprego.

Para entender o atual momento da economia brasileira, é preciso ir além da sabedoria convencional e pensar olhando para a oferta. Na primeira década do século 21, após um ciclo de reformas pró-mercado e com a ajuda do aumento dos preços das commodities, a economia brasileira pareceu ter atingido o máximo de sua capacidade de produção. Em vez de permitir ao mercado organizar o aumento da capacidade de produção, o governo resolveu estimular a demanda como forma de manter a atividade econômica próxima à capacidade máxima. Foi a época do crédito fácil, do aumento de gastos públicos e da redução de juros.

O governo não permitiu que o mercado reorganizasse a economia após a crise, ao impor uma ordem artificial

A chegada da crise fez com que o governo apostasse ainda mais na estratégia de puxar a economia pela demanda. Mas essa estratégia traz um perigo embutido: os estímulos criam uma falsa sensação de riqueza. Tal sensação começa a estimular atividades artificiais, no sentido de que tais atividades só existem por causa do estímulo e, uma vez retirados os incentivos, a atividade se mostra inviável. Pior: os recursos investidos nessas atividades artificiais poderiam ter sido destinados a atividades com um potencial real de prosperar. Com o tempo, parte significativa do emprego só continua a existir graças aos estímulos.

Se fosse possível manter os estímulos indefinidamente, todos viveriam felizes para sempre, mas isso não é possível. Cedo ou tarde chega o momento em que os estímulos são retirados da economia. É nessa hora que o emprego associado à produção artificial desaparece como que por resultado de uma mágica cruel. Mas não há nenhuma mágica. O que ocorre é que o governo não permitiu que o mercado reorganizasse a economia após a crise, ao impor uma ordem artificial.

A lógica descrita acima fica patente nas declarações da presidente Dilma no sentido de que o governo fez tudo que podia para evitar a crise, mas agora não pode fazer mais nada. E é verdade! O que a presidente parece não ter percebido é que, ao fazer tudo o que podia para evitar a crise, o governo não apenas adiou uma crise inevitável, como a tornou muito maior e mais dolorosa do que teria sido sem a intervenção do governo.

Roberto Ellery Jr., doutor em Economia, é professor na UnB e especialista do Instituto Liberal.
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