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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

Uma das principais funções da democracia é a proteção dos direitos humanos fundamentais, como a liberdade de expressão, de religião, a proteção legal e as oportunidades de participação na vida política, econômica e cultural da sociedade. Os cidadãos têm o direito e o dever de participar de inúmeros sistemas sociais devidamente organizados, visando proteger seus direitos e sua liberdade. Com base nesses princípios, e diante das alarmantes notícias sobre as ocupações das escolas, como fica o dever de um professor em cumprir o seu labor? E o direito de um aluno de assistir à aula desse professor? Será que a legítima via democrática, que seria uma inteligente e ativa cobrança dos representantes do povo, foi simplesmente suprimida e trocada pela estratégia de vencer pelo cansaço e pelo grito?

Há de se evidenciar o engajamento de muitos estudantes em querer fazer a sua voz ser ouvida no momento em que os governantes anunciaram a reforma de um segmento importante da educação básica: o ensino médio. É possível perceber pontos muito bons – e necessários – nessa proposta. Mas a medida provisória, apresentada de forma truncada e equivocada, também trouxe consigo vários pontos negativos: educação integral sem o devido recurso para fazê-la acontecer, áreas de conhecimento que deixarão de existir, professores com “notório saber” etc...

Tentar defender ideias imprimindo a força jamais trará impactos positivos

As ocupações e a rebeldia

Queremos viver em uma sociedade tão rígida que o questionamento da ordem vigente só possa ser feito no espaço que essa ordem admite?

Leia o artigo de André Folloni, coordenador dos cursos de mestrado e doutorado em Direito da PUCPR

Sou professor do ensino médio e do ensino superior. Quando reflito profundamente sobre o fato de um reduzido grupo de estudantes se apropriar de uma escola, fazendo com que todo um planejamento escolar acadêmico seja quebrado, prejudicando cada espaço escolar com a interrupção das aulas e atividades diversas, vejo que corremos claramente o risco de praticar a antidemocracia. Podemos, ainda, adicionar a esse cenário a vasta desinformação entre os estudantes sobre o conteúdo da reforma, a triste perda da vida de um estudante de apenas 16 anos em Curitiba e a constante manipulação da informação e das pessoas envolvidas em todo esse trágico processo de ocupação das escolas.

Portanto, não se podia tolerar ou permitir que esse tipo de movimento perdurasse por tanto tempo. Quando os estudantes manifestantes, imbuídos das suas verdades e razões, impediram o funcionamento de centenas de escolas, faltou-lhes a serenidade e o entendimento de que prejudicaram milhares de colegas que, por exemplo, se preparavam para o Enem e para os iminentes vestibulares.

Não defendo que esse processo tenha sido ilegítimo, mas tive em vários momentos a sensação de falta de argumentos e ausência de um norte nos discursos que li e ouvi. Estou certo de que, em muitos momentos das nossas vidas, somos levados erroneamente a tentar resolver problemas por vias não pacíficas e querer promover ações para chamar a atenção. Porém, em um ambiente educacional, para começar, é preciso ser educado e elegante nas ações e palavras. Afinal de contas, a democracia expressa claramente o princípio de que há direitos que não podem ser limitados pelos outros. Tentar defender ideias imprimindo a força, em detrimento do diálogo inteligente e organizado, jamais trará impactos positivos diante de uma sociedade que está carente de bons exemplos, de boas pessoas e de boas ações.

José Motta Filho, engenheiro civil, é professor de Física no Colégio Positivo e professor de Cálculo Diferencial e Integral na Universidade Positivo.
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