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| Foto: Simon Dawson/Bloomberg

Em 21 de dezembro foi noticiado que a Embraer, nossa empresa fabricante de aeronaves, e a Boeing estariam em negociações para uma possível parceria. Antes de tomar um lado, a favor ou contra, vamos lembrar dois pontos importantes sobre o assunto.

O primeiro ponto é sobre o mercado de aviação. Inserido como meio de transporte indispensável, rápido e seguro, o único que permite às pessoas conhecerem e fazerem negócios no mundo todo, este mercado em expansão está em constante mudança. Hoje o mercado americano é o maior do mundo, mas vem sendo alcançado pela China, que absorve centenas de aeronaves novas a cada ano, e que transportou, só em aeronaves da Embraer, mais de 17 milhões de passageiros em 2017.

Se bem realizado, o acordo pode nos trazer uma situação bastante favorável

Dois grandes players dominam o jogo dos fabricantes de aeronaves, a Boeing e a Airbus. A Airbus é um consórcio europeu que atingiu o status da sua concorrente Boeing, e com ela vem travando intensa disputa pelo mercado. A Boeing, por sua vez, cresceu adquirindo outras empresas fabricantes e reinava absoluta, até a chegada da Airbus. Logo atrás destas vêm a Bombardier, canadense, e a Embraer, brasileira, que cresceram vendendo aeronaves menores, destinadas à aviação regional, aviação executiva e também uma parcela de aeronaves militares.

O segundo ponto a ser notado é a relevância da Embraer para o Brasil. Fruto do dinamismo e competência de pessoas como Ozires Silva, que a criou em 1969, ela é hoje um dos símbolos da capacidade do país em competir com tecnologia de ponta no mercado internacional. Seus aviões estão voando nos cinco continentes. Mais do que isso, a Embraer participa ativamente em diversos programas do governo brasileiro, como o de satélites de comunicação, controle das fronteiras e desenvolvimento de sistemas. Tem sido, também, desenvolvedora de aeronaves para a Força Aérea Brasileira desde seus primórdios.

Assim, esse ponto a coloca em uma situação de ser considerada estratégica para o país. Não só pelo número de empregos – mais de 20 mil – e pela forte exportação de produtos manufaturados, mas pela capacidade tecnológica que mantém e desenvolve com pessoal técnico brasileiro. Desta forma, qualquer acordo com a gigante americana precisa de salvaguardas, como o poder de veto do governo brasileiro, de modo a garantir que a parceria seja uma injeção de força na empresa.

Leia também: Um acordo bom para todos (artigo de Shailon Ian, publicado em 10 de janeiro de 2018)

Leia também: O tabu das privatizações (editorial de 22 de fevereiro de 2017)

Experiências anteriores mostram, nestas associações, uma prevalência da maior sobre a menor e, eventualmente, uma subordinação que não nos interessa de forma alguma. Nesse caso, seria a perda da autonomia no controle e decisão, além de perda de poder do país. Por outro lado, a simples recusa a um acordo pode gerar um ambiente agressivo das demais empresas, incluindo a Boeing, que poderiam colaborar para combatê-la.

Se bem realizado, com um pouco de audácia e muita firmeza no formato, o acordo pode nos trazer uma situação bastante favorável, como crê o fundador da empresa, Ozires Silva, que se pronunciou favoravelmente a este respeito – e cuja opinião, sempre bem fundamentada, deve ser sempre considerada.

Fábio Augusto Jacob, coronel-aviador da reserva da Força Aérea Brasileira, é coordenador e professor da Academia de Ciências Aeronáuticas Positivo (Acap) da Universidade Positivo.
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