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Felipe Lima

Enquanto você lê este artigo, a América faz a maior mudança política desde o dia em que Ronald Reagan substituiu Jimmy Carter como morador da Avenida Pensilvânia, 1600, há 36 anos. Você está testemunhando história.

A posse de Donald Trump no cargo mais poderoso do planeta não é inédita apenas por ele ser o mais velho a assumir ou o primeiro que não veio da política ou das forças armadas. Trump representa o momento em que a ordem mundial estabelecida após a queda do Muro de Berlim está, pela primeira vez, em xeque.

Os americanos deram ao Partido Republicano sua maior vitória desde 1928, uma rejeição inegável ao “popular” Barack Obama. Após expiar as culpas do passado, o eleitor preferiu desta vez analisar racionalmente o governo e seu legado, o que inclui a explosão do déficit público e a piora de todos os índices sociais relevantes, sem contar os escândalos que só aparecem nos rodapés das páginas de jornal, mas que ele acompanha de perto nas redes sociais e nos poucos veículos independentes. Foi também um “não” à candidata com acusações de fazer o PT parecer um colégio de freiras.

A resposta do eleitor às ofensas e calúnias dos “globalistas” chegou com o Brexit e com Trump

Com o fim da Guerra Fria e da União Soviética, emergiu uma nova ordem política “globalista” (favor não confundir com “globalização”) em que o mundo se tornaria gradativamente um único Estado sem fronteiras, com as nações perdendo sua autonomia e suas identidades nacionais. Acordos supranacionais eram assinados a todo momento, criando profundas transformações para as populações locais que eram raramente envolvidas nas decisões.

Aos poucos, o Estado-nação soberano e independente foi sendo visto como um anacronismo a ser removido. Qualquer um que se opusesse à perda da soberania do seu país passou a ser demonizado publicamente como “radical”, “xenófobo”, de “extrema-direita” e “protecionista”. A resposta do eleitor às ofensas e calúnias dos “globalistas” chegou com o Brexit e com Trump. E não deve parar com eles.

O bilionário de cabelo laranja não deve ser classificado apressadamente nas categorias usuais de “direita” e “esquerda”. As regras do jogo mudaram, mas muitos ainda tentam entender o novo campeonato usando as velhas cartilhas. Trump foi “conservador” ou “liberal clássico” quando clamou por menos impostos e regulações para liberar a economia das amarras do intervencionismo estatizante do antecessor. Trump foi “esquerdista” quando prometeu US$ 1 trilhão em investimentos públicos em infraestrutura, um pacotaço de fazer John Maynard Keynes e Franklin Roosevelt levantarem do túmulo para aplaudir. Trump foi ambíguo quando falou em melhorar os acordos comerciais do país, o que fez com que os apressados já saíssem classificando suas declarações como “protecionistas”.

O pouco que se pode afirmar neste momento é que Trump, lembrando João Dória em São Paulo, não deixou suas empresas e veio para a política a passeio. Suas escolhas para o ministério mostram uma capacidade admirável de perdoar antigos opositores. Apenas o anúncio do general James Mattis para a Defesa já deixou o mundo um pouco mais seguro. Quem acha que o governo Trump vai dever favores à Rússia não faz ideia de quem ele é.

Se Trump fizer as obras públicas que promete e mantiver as grandes empresas no país, além de oferecer uma boa alternativa ao Obamacare, terá um cacife eleitoral quase imbatível em 2020, mesmo com a imprensa já embarcando alegremente na campanha de Michelle Obama. Se baixar impostos e tirar regulações, poderá turbinar a economia e entregar a promessa de fazer a América “grande novamente”. O tempo dirá.

Alexandre Borges é diretor do Instituto Liberal.
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