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Felipe Lima

O Ciência sem Fronteiras é uma iniciativa do Ministério de Educação para promover a expansão e a internacionalização da ciência e da tecnologia, da inovação e da competitividade brasileira. Quando foi criado, oferecia intercâmbio e mobilidade internacional para alunos da graduação e da pós-graduação e via, na internacionalização da educação superior, uma possibilidade para que o Brasil saísse do isolamento científico em áreas estratégicas como a da engenharia, por exemplo.

Este ano, o governo federal decidiu excluir os alunos da graduação e atender apenas os da pós-graduação. Serão oferecidas 5,1 mil bolsas para doutorado, pós-doutorado e professores visitantes no exterior. A notícia caiu como uma bomba nos meios acadêmicos e, principalmente, entre os alunos que esperavam ser contemplados com uma das bolsas para estudar fora do país. O governo afirma que os gastos com o programa eram muito elevados e, diante da crise atual, achou melhor cortar as bolsas para estudantes de cursos superiores. Segundo o Ministério da Educação, só em 2015 os gastos com a manutenção dos alunos no exterior ultrapassaram a casa dos bilhões.

Não houve tempo para que o programa amadurecesse e mostrasse a que veio

Os últimos alunos que participaram do programa foram os selecionados em 2014. Ao todo, a iniciativa beneficiou cerca de 100 mil estudantes. Muitos nunca tinham tido uma experiência no exterior e, além de estudarem um ano com direito a bolsa, puderam conviver com alunos de outras culturas, o que sem dúvida trouxe um crescimento pessoal e acadêmico importante para eles.

O presidente da Capes (a agência responsável pela seleção e distribuição das bolsas), Abilio Baeta, disse que uma das causas do término do programa para a graduação foi que “a volta desses meninos não impactou a prática de ensino de nossas universidades e, com isso, não foi multiplicada para melhorar o ensino em geral da graduação no Brasil nas áreas que tinham sido selecionadas”.

Por outro lado, para o ex-ministro Aloizio Mercadante, mesmo com opiniões divergentes sobre os motivos que levaram ao fim do programa, é possível observar que entre os alunos beneficiados por essa iniciativa havia 26,4% de negros; 25% de famílias com renda de até três salários mínimos; e mais da metade eram oriundos de famílias com renda de até seis salários mínimos. Dos 13 mil alunos de graduação que passaram um ano no exterior pelo programa, 20% ingressaram na pós-graduação. Eles estudaram em 2.912 universidades de 54 países, incluindo 182 das 200 melhores universidades do mundo. Para Mercadante, só esses dados já seriam suficientes para justificar a continuidade do programa.

O senador Cristovam Buarque admite que o programa precisa de ajustes, principalmente no que diz respeito à avaliação dos benefícios e da eficácia dessa iniciativa junto à sociedade e à comunidade acadêmica.

Não há dúvida de que o Ciência sem Fronteiras é um grande programa voltado para o desenvolvimento da pesquisa no nosso país. Fica claro também que ajustes seriam necessários para aperfeiçoar o programa, já que não houve tempo para que amadurecesse e mostrasse a que veio. Por isso, neste momento, avaliar uma iniciativa dessa magnitude como mal-sucedida pode ser precipitado e nos custar muito caro num futuro bem próximo.

Maristela Gripp é professora da Escola Superior de Educação do Centro Universitário Internacional Uninter.
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