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| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

A perspectiva do fim do foro privilegiado para muita gente parece trazer um alento ao país, cansado de ver condenações em primeira e segunda instância acontecerem com grandes figuras nacionais – excetuando-se aquelas com mandato em curso em um dos três poderes. Normalmente o foco dessa indignação está direcionado ao Legislativo. Mas são cerca de 54 mil pessoas detentores de foro privilegiado, segundo levantamento do próprio Senado Federal.

Mas será interessante – e importante – nos lembramos que o Brasil tem uma Federação esquizofrênica, concentradora de poderes, mas também com uma estrutura centralizada, com afunilamentos de concentração que têm suas bocas finais em Brasília. O Judiciário, por exemplo, tem diversas instâncias e, segundo a Constituição, no seu artigo 5.º, LVII, “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”.

O Brasil não pode e não vai ser resolvido por partes. O “problema Brasil” é sistêmico

Aliás, a discussão sobre o duplo grau de jurisdição não terminou exatamente por este aspecto presente na Constituição, embora seja pratica corrente em muitos países. Se tal discussão avançar para a constitucionalidade da sentença final, que só será prolatada no STF, então o fim do foro privilegiado poderá ser uma vitória de Pirro para o povo. A esquizofrenia do volume das instâncias em um país unitário como o Brasil não permite a existência de instâncias finais em uma suprema corte estadual. Ou, ainda, uma corte federal exclusiva para julgar políticos e membros da esfera federal, que não seja o STF – que deveria cuidar exclusivamente da Constituição. Os degraus de instâncias poderão, então, ser tão lentamente escalados que, ao chegarem ao Supremo, sob as atuais regras, os crimes já estarão prescritos.

E o que dizer dos julgamentos de primeira a terceira instância dentro de estados ainda sob o modelo atual de coronelatos políticos? A depender do “você sabe com quem está falando?”, sentenças nas instâncias iniciais poderão seguir, como já muito se observou neste país, a linha dos compadrios e redes de relacionamentos e conveniências do momento.

Leia também: Esse tal foro privilegiado (editorial de 27 de fevereiro de 2017)

Leia também: Foro por prerrogativa ou privilégio? (artigo de Eduardo Faria Silva, publicado em 23 de novembro de 2017)

O Brasil não pode e não vai ser resolvido por partes. O “problema Brasil” é sistêmico. Não teremos um Judiciário decente enquanto estivermos sob uma estrutura mastodôntica e ultraburocratizada, um sistema político que se entrelaça com a Justiça – e, como dizia Guizot, “quando a política penetra no recinto dos tribunais, a Justiça se retira por alguma porta” –, e quando o próprio Executivo se imiscui na formação do aparato judiciário. Francamente, não consigo acreditar que os presidentes dos três poderes da República e a maioria dos políticos estejam reunidos, discutindo o assunto, sem nenhuma preocupação quanto às suas próprias caudas. Você acredita?

O Brasil precisa ser refundado para realinhar, reposicionar as instituições, de maneira lógica, com independência e harmonia entre as mesmas e, principalmente, sob o principio da Subsidiariedade, que define corretamente o Federalismo Pleno, com autonomia hierárquica dos estamentos públicos e civis. Obviamente, há de se ter uma nova matriz constitucional, sintética e principiológica. Sem que isso seja feito, o próprio sistema continuará a privilegiar quem dele sabe se servir, com o povo a pagar a conta. Ou seja, o próprio sistema atual é o foro privilegiado da casta que busca se proteger a qualquer custo. Até mesmo, paradoxalmente, pondo fim ao foro privilegiado no STF.

Thomas Korontai é empresário, fundador e líder do Movimento Federalista no Brasil.
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