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| Foto: Andreas Solaro/AFP

Em releitura da Reforma Protestante do século 16, historiadores equilibrados e ponderados, como Giacomo Martina, empregam o vocábulo “revolução” para definir o movimento que rompeu com a Igreja Católica. Não se trata de denegrir o episódio, mas de usar o termo tecnicamente idôneo.

De fato, frei Martinho Lutero, um padre, membro da Ordem de Santo Agostinho (instituição eclesiástica existente ainda hoje e bastante atuante), o principal prócer da Reforma (revolução), não quis executar somente mudanças acidentais, mas procedeu a alterações essenciais no ensinamento católico, criando, destarte, nova religião, praticada hoje em dia pelos evangélicos. Por exemplo, dos sete sacramentos administrados pela Igreja, frei Lutero rejeitou todos, salvo o batismo – que, mesmo assim, passou a ter interpretação diferente. Ademais, aprendemos na escola, nas aulas de História, que a Reforma (revolução) também aboliu a doutrina da necessidade de boas obras para a salvação, bem como centralizou a fonte da revelação divina unicamente na Bíblia, recusando a Tradição como outra vertente da referida revelação.

Lutero não quis executar somente mudanças acidentais, mas fez alterações essenciais no ensinamento católico

Em tempos de ecumenismo, instaurado pelo Concílio Vaticano II (1962-1965), não nos cabe guerrear contra as proposições da Reforma (revolução), sintetizadas acima. Pelo contrário, temos de resgatar o que une católicos e evangélicos, mormente a fé na divindade de Jesus Cristo e a crença na Santíssima Trindade. Desta feita, os cristãos, de um modo geral, devem se unir em prol da construção de um mundo mais justo e fraterno, onde haja vida abundante para todos (cf. Jo 10,10).

Sem embargo, soa um tanto quanto estranho que a Igreja Católica participe oficialmente das comemorações dos 500 anos da Reforma – o aniversário ocorre em 31 de outubro de 2017 –, haja vista os eventos realizados na Suécia em 31 de outubro passado, que deverão prosseguir ao largo de 2017. Mutatis mutandis, é como se os japoneses resolvessem comemorar os bombardeios perpetrados contra Hiroshima e Nagasaki. Que absurdo! A Reforma (revolução) decerto caiu como bomba sobre a Igreja, subtraindo da grei católica metade da Europa. Exatamente em Lund, lugar da abertura das comemorações, as igrejas foram destruídas, exceto a catedral, malgrado despojada das alfaias, para se adequar ao uso reformado.

Nos dias que correm, graças a Deus, católicos e evangélicos caminham juntos, irmanados em importantes projetos sociais. No Brasil, nunca houve animosidade religiosa, como sói ocorrer em certos países. Porém, cada segmento do cristianismo precisa valorizar sua especificidade confessional, forjando, deste modo, saudável orgulho de ser católico ou evangélico, em pleno respeito a quem pensa diferente ou professa religião não cristã.

Edson Luiz Sampel, doutor em Direito Canônico, membro da Sociedade Brasileira de Canonistas (SBC) e da União dos Juristas Católicos de São Paulo (Ujucasp), é professor da Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo e autor de “Católico até debaixo d’água”.
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