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Nas últimas eleições municipais, realizadas em outubro, cidadãos e cidadãs de Curitiba elegeram Rafael Greca ao posto de prefeito. Em uma de suas primeiras entrevistas depois de eleito, Greca afirmou que pretendia começar a trabalhar já na semana seguinte à votação, no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc). Quando questionado sobre a transição entre governos, fez menção a alguns nomes, mas especialmente a dois funcionários “já contratados”: um sabiá e um pintassilgo que vivem em uma árvore próxima ao seu antigo escritório no Ippuc. Segundo o político, as aves irão “dar a harmonia onde vamos construir o futuro de Curitiba”.

Essas aves são moradores comuns da cidade e não são colaboradores exclusivos do novo prefeito, mas sim da sociedade e do meio ambiente como um todo. Por mais que seja difícil a valoração de um benefício gerado pelo simples avistamento de uma espécie da fauna como o pintassilgo, é bom perceber o reconhecimento pelo político dos benefícios disso para a população.

A fauna silvestre, quando citada no plano de governo, foi tratada de forma superficial

Ver esses animais não significa que estarão sempre ali. Geralmente aparecem em lugares que oferecem abrigo e oferta de alimento. Se o prefeito deseja continuar observando aves e outros animais que habitam áreas naturais, terá de cuidar da vegetação nativa na qual a cidade de Curitiba está inserida. Curitiba faz parte de um contexto maior e usufrui de benefícios – como a água, qualidade do ar e temperatura equilibrada – gerados pelas áreas naturais dentro e no entorno do município.

Esses animais silvestres precisam de áreas naturais para sobreviver. Há registros de mais de 350 espécies de aves em nossa capital. No entanto, é interessante reparar que nem o prefeito eleito, nem seus adversários estabeleceram em sua campanha um posicionamento a respeito da conservação da natureza no município. Rafael Greca se comprometeu somente com questões ambientais como a limpeza e gestão de resíduos da cidade, mudanças na matriz energética e atenção aos animais domésticos. A fauna silvestre, quando citada, foi tratada de forma superficial com “visitas periódicas de veterinários a todos os parques e bosques da cidade”. O que será que isso significa?

Por isso é tão interessante seu pronunciamento a respeito das aves. Seria a classificação delas como “funcionários” uma mudança conceitual na nossa relação com os recursos naturais de nossa cidade? O novo prefeito tem muito trabalho pela frente. A gestão atual foi responsável por ampliar as áreas protegidas por lei em quase 900 hectares, entre Unidades de Conservação públicas e particulares (Reservas Particulares do Patrimônio Natural Municipal – RPPNMs), essenciais para garantir a conservação da flora e da fauna nativas no ambiente urbano.

Precisamos pensar nesses “funcionários” e em muitos outros que ainda não foram contratados pelo governo, mas que são parte do patrimônio natural de nossa cidade e que sempre estiveram aqui, trabalhando funções tão importantes, como o plantio de árvores nativas. A sociedade civil organizada está aberta para receber o novo prefeito para conversar sobre o papel da conservação da natureza na saúde e bem-estar públicos.

Fernando Esteban Montero e Ricardo Borges são técnicos da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS).
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