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Quando centenas de bispos católicos do mundo todo se encontrarem, a partir deste domingo, para discutir os desafios da família, o que os católicos homossexuais podem esperar?

Em primeiro lugar, eu espero que os bispos encorajem as famílias a acolher seus membros gays. Os bispos podem pedir aos pais que não rejeitem seus filhos, não os forcem a terapias daninhas, não os joguem na rua. Os bispos podem convocar os católicos a oferecer um refúgio seguro aos adolescentes gays que sofrem e não têm um lar. Somos uma Igreja para aqueles que estão às margens, para aqueles que precisam de apoio.

Para além desta questão mais urgente, podemos perguntar: como os católicos homossexuais podem dar e receber amor? O encontro preliminar em 2014 deu origem a dois documentos com enfoques radicalmente diferentes. O rascunho inicial sugeria que as experiências dos gays poderiam oferecer dons e inspirações particulares para a Igreja. Ele elogiava o carinho e o amor dedicado presente em muitos pares gays. O relatório revisado, por outro lado, trouxe pouca discussão sobre os homossexuais, mas defendia o ensinamento católico de que o casamento é a união fiel e duradoura entre um homem e uma mulher.

Ambos os documentos estão basicamente certos e são importantes. Mas nenhum deles abordou a questão central para os católicos gays e lésbicas.

Muitos católicos gays e lésbicas desejam sinceramente seguir o ensinamento da Igreja

O reconhecimento do amor e do cuidado presentes em relacionamentos homossexuais, presente no rascunho, mostra uma inclinação a dirigir-se ao mundo como ele é, em vez de fingir que os únicos relacionamentos verdadeiramente amorosos são aqueles que seguem a moral católica. Recusar-se a honrar a dedicação e o cuidado onde quer que eles estejam é ingratidão – e transforma católicos em pessoas pouco confiáveis para guiar os demais rumo a um Deus que é amor.

Mas o texto final é igualmente verdadeiro. O testemunho do casamento cristão evoca a criação, a união entre Adão e Eva, e nos traz a imagem da união entre Cristo e a Igreja. Casamento fiel e duradouro entre um homem e uma mulher, ou a abstinência: esses são os dois caminhos aos quais os cristãos têm sido chamados, desde a Igreja primitiva, para entregar a Deus seus corpos. São os dois modos de transformar nossos corpos em altares. Não nos foram oferecidos outros.

Os bispos provavelmente passarão muito tempo discutindo os sacrifícios que envolvem o casamento cristão. Mas e o celibato cristão (ou seja, abstinência sexual pela vida toda)? Muitos católicos gays e lésbicas desejam sinceramente seguir o ensinamento da Igreja, mas temem uma vida de solidão estéril e sem sentido.

Atualmente, as únicas formas de amor adulto sobre as quais se fala são o romance e a paternidade/maternidade. Mas, ao longo da história cristã, muitas outras formas de amor têm sido honradas e estimuladas. A amizade e o apadrinhamento, por exemplo, são maneiras de honrar laços emocionais e criar deveres práticos de cuidado mútuo. Leigos solteiros têm sido acolhidos por suas famílias ou famílias de amigos (muitos de nós, por exemplo, têm uma “tia-avó” que, na verdade, era a melhor amiga de nossa avó) e têm tanto servido essas famílias quanto sido servidos por elas. Formamos comunidades, das beguinages medievais que reuniam leigas cristãs às atuais casas do movimento do Trabalhador Católico, e temos nos dedicado de corpo e alma ao serviço dos mais pobres. Se os bispos querem tornar plausível o ensinamento católico sobre a homossexualidade, eles precisam reviver esses antigos caminhos, essas formas mais diversas de amor e família.

Eve Tushnet, escritora e blogueira, é autora de Gay and Catholic – Accepting My Sexuality, Finding Community, Living My Faith. Tradução: Marcio Antonio Campos.
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