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 | Albari Rosa/Gazeta do Povo
| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Poucos meses depois de assumir a missão de liderar a Igreja Católica, aos 76 anos, o papa Francisco fez uma grave denúncia: “Vivemos uma época em que os idosos não contam. É triste dizer isto, mas eles são descartados! Porque incomodam”. Esta afirmação foi feita em novembro de 2013 e desde então a situação não melhorou. Ao contrário, os fatos continuam renovando o alerta do papa.

No dia a dia, o descaso com o idoso é percebido a todo momento e vem se avolumando. No seu cotidiano, o idoso sofre discriminação e preconceito, adquirindo traumas psicológicos, sofrendo rejeições e o abandono da família, do Estado e da sociedade.

Temos uma Constituição e um Estatuto do Idoso que nada ou quase nada conseguiram mudar neste triste quadro. Tirando uma ou outra iniciativa, como vaga preferencial em estacionamentos ou filas de supermercado, a realidade vivida pelo idoso no Brasil explicita o descaso em todas as suas formas. E o pior: essa cultura de discriminação expõe e encaminha a geração que a pratica para a mesma sorte. Afinal, estamos todos envelhecendo. Este é o ciclo irreversível da vida.

A Constituição e o Estatuto do Idoso nada ou quase nada conseguiram mudar neste triste quadro

Precisamos resgatar e promover o valor e a dignidade das pessoas idosas. Precisamos ouvi-las. Deixar que se manifestem, que nos ensinem a sabedoria adquirida ao longo de seus anos já vividos. Precisamos de uma sociedade para todas as idades, com uma visão positiva do envelhecimento e que desperte o sentimento coletivo de gratidão, apreço e hospitalidade para que os idosos sejam inseridos nesta sociedade de forma ativa. Uma sociedade moderna que faça o idoso sentir-se parte da sua comunidade. Que as suas experiências e as lutas travadas para garantir uma vida mais digna aos seus filhos sirvam de aprendizado e que esse aprendizado possa ser compartilhado, vivido em comunhão.

Temos de parar de agir como se a velhice não existisse na nossa vida e começar a mudar com atos simples e cotidianos. Qual é o problema de falar um pouco mais alto ou de repetir uma frase para o seu pai ou seu avô? Dar tratamento diferenciado a eles é uma questão de respeito. O mesmo respeito de que você vai sentir falta na sua velhice se não praticá-lo agora.

Acredito que podemos ter este começo já. Que é possível começar a mudança. Quem aproveitar essa oportunidade pode viver momentos extraordinários, vai melhorar sua percepção do mundo, enriquecer sua experiência de vida e será mais feliz.

Se todos agirmos com respeito, vamos torná-lo algo comum, natural. Penso no quanto isso é grandioso e que cada geração que adotar esta postura receberá de presente, na sua velhice, a integração, a conversa, a troca de experiência, o convívio comum e a atenção que todos merecemos. Para isso, basta substituir a palavra descaso por atenção. Mas o poder imenso desse ato só se faz sentir com força quando a palavra abre o coração e transforma o verbo em ação. Mobilizar e mudar a nossa sensibilidade é sempre um ato de escolha. Vamos fazer essa escolha. Vamos escolher o respeito à vida.

Padre Reginaldo Manzotti é embaixador da Pastoral da Pessoa Idosa.
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