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| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

No momento em que seus professores fizeram manifesto justificando greve contra as reformas previdenciária e trabalhista, alunos do Colégio Santa Cruz, em São Paulo, redigiram documento defendendo as reformas. Essa manifestação tem como lógica a disputa latente e crescente, mesmo que inconsciente, entre os interesses das gerações atuais e os interesses das futuras. Os jovens começam a perceber que eles são como refugiados tentando emigrar para o futuro, impedidos por um “mediterrâneo invisível” formado por leis e opções que protegem os adultos.

Basta pensarmos em relação ao meio ambiente. Ao concentrar o conceito de progresso no crescimento da produção para atender o aumento da renda e do consumo, comprometemos o bem-estar dos que vão herdar um mundo com as consequências da crise ecológica. Mas não se vê nos adultos de hoje os gestos necessários de comedimento na prática do consumismo.

Os jovens começam a perceber que eles são como refugiados tentando emigrar para o futuro

No campo da economia, a falta de austeridade nos gastos públicos provocou os orçamentos deficitários e deixará aos jovens a condenação a serviços estatais deficientes, como já se observa no Rio de Janeiro. O atual sistema previdenciário, que beneficia os adultos de hoje, vai exigir um esforço crescente na contribuição dos jovens, até porque o número destes será cada vez menor para sustentar a aposentadoria de um número cada vez maior. Sem a reforma, eles provavelmente nem contarão com um sistema sustentável para protegê-los na velhice, ou terão de receber suas aposentadorias em moeda inflacionada.

Da mesma forma, a reforma trabalhista é parte dessa luta entre gerações. Quando a atual legislação foi feita, o trabalho era manual e as profissões eram permanentes. Cada vez mais os jovens enfrentarão um mundo no qual os empregos provisórios serão substituídos por máquinas ou por novas profissões que exigem educação. E de nada adiantará querer manter o emprego estável por determinação legal; as empresas antigas quebrarão e as novas irão para outros países, como estão fazendo em direção ao Paraguai e à China.

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É também por essa razão que os alunos se manifestaram contra a greve dos professores, ao perceberem que cada dia sem aula dificultará o futuro deles, na competitiva civilização do conhecimento que terão de enfrentar. Mas precisam entender que não terão boa educação sem educadores contentes com seus salários, condições de trabalho e perspectiva de aposentadoria. Devem, por isso, apoiar as lutas de seus professores por boas causas, de preferência sem paralisações. A reforma da Previdência é necessária, mas deve ter um cuidado especial com os professores para não os prejudicar.

Conscientes ou não, os meninos do Colégio Santa Cruz estavam tentando não perder os direitos que esperam vir a ter quando chegar a vez deles. Por isso, todos os estudantes deveriam despertar e se mobilizar na defesa de seus interesses, corrigindo os vícios do atual sistema socioeconômico que protege o presente dos homens e das mulheres com um “mediterrâneo invisível”, barrando os jovens na marcha para um futuro promissor.

Cristovam Buarque é senador e professor emérito da UnB.
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