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| Foto: John MacDougall /AFP

Em outubro de 2014, estive na Califórnia para um congresso de renda fixa do CFA Institute e um assunto que nunca me saiu da cabeça foi tratado na palestra de Mohamed El-Erian. Ele disse que o mundo estava ficando cada vez menos previsível. O principal ponto de sua palestra foi a afirmação que o mundo chegaria a um ponto de inflexão em até três anos. Dois cenários, para ele com iguais chances, poderiam acontecer: as mudanças necessárias serem feitas, em escala global, para que não tivéssemos tanta diferença de renda entre ricos e pobres, além de outras medidas para melhorar o ambiente econômico no geral. Caso isso ocorresse, ele afirmou que teríamos um bom futuro pela frente. Por outro lado, ele adiantou que poderíamos ter um cenário de crise. Bastante convicto dessa análise, Mohamed El-Erian deu como exemplo o aumento de renda nos Estados Unidos: desde a crise em 2008, apenas os 3% mais ricos no país viram sua renda aumentar, enquanto a grande maioria da população seguia com os mesmos salários.

Acredito que estamos passando por este ponto de inflexão, no momento. A saída do Reino Unido da União Europeia, a possibilidade de Donald Trump ser eleito nos Estados Unidos e a ascensão de partidos de extrema-direita na Europa mostram que as reformas necessárias para uma melhor distribuição de renda não aconteceram. E isso acabou levando a população de diversos países a buscar mudanças, mesmo que elas sejam um mistério – e muitas vezes possam piorar tudo.

As reformas necessárias para uma melhor distribuição de renda não aconteceram

Alguns fatos que acontecerão no continente, em outubro, poderão ecoar nos mercados globais e são reflexo direto dessa vontade de mudança. Após os resultados de maio terem sido anulados, novas eleições na Áustria poderão colocar no poder um partido de extrema-direita – curioso é observar que o líder do Freedom Party of Austria (FPÖ, que lidera as pesquisas), em 1956, era um ex-nazista e oficial da SS. Em 30 de outubro, ocorre o referendo constitucional na Itália. Cerca de 18% do crédito dos bancos italianos é hoje considerado como inadimplente. Matteo Renzi aposta todas as suas fichas no referendo e, caso o perca, comenta-se muito que pedirá renúncia – além de possivelmente começar o processo de saída da Itália do euro.

O Reino Unido deve mesmo sair da União Europeia (mesmo com as promessas da campanha pró-saída já estarem sendo quebradas), a presidenciável francesa Marine Le Pen quer propor o mesmo na França e a Itália poderá, quem sabe, não suportar mais uma vida europeia. A dívida de alguns países europeus, como Grécia, Itália e Portugal, está em níveis elevadíssimos. Assim, depois de outubro, poderemos ver o início do esfacelamento do euro e, talvez, da União Europeia.

E, claro, esse momento conturbado terá impacto direto em seus investimentos. Com a facilidade que investidores têm para levar seus recursos de um país para o outro em busca de melhores oportunidades, nós não estamos imunes ao que acontece fora do Brasil. Apesar de estarmos em um ambiente relativamente mais calmo com a confirmação do impeachment e melhora nos níveis de confiança de empresários e consumidores, uma rápida entrada ou saída de dinheiro do país poderá trazer grande variação ao dólar e à bolsa. O Brasil deve se beneficiar com a entrada de dólares (que deve tornar o real mais valorizado) e valorização das ações. Claro que devemos fazer a lição de casa, com a aprovação de medidas que estimulem a economia e diminuam os gastos do governo. Por enquanto, o cenário é favorável para os investidores brasileiros.

Luiz Augusto Pacheco é gestor e planejador financeiro na Inva Capital.
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