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Felipe Lima

Em dezembro de 2002, Pedro bateu com sua BMW e entrou em coma no Sírio-Libanês, do qual só saiu esta semana. Como ele era membro da UNE, quis logo saber com o médico sobre os principais acontecimentos políticos desse longo período de sua ausência. Como foi, afinal, o primeiro governo realmente de esquerda no país? A pobreza havia acabado? Ele lembrava da euforia de seus colegas socialistas, e estava muito ansioso.

Com aquele tato peculiar dos médicos, e ainda por cima alemão, o dr. Fritz passou a relatar de forma bem direta tudo que vinha à mente. Começou assim: “O Brasil tem hoje 12 milhões de desempregados. Parece que o PT não foi muito eficiente no combate à miséria”. Pedro levou um choque, mas quis entender melhor o que tinha acontecido para que se chegasse a esse ponto. Alguma coisa as elites tinham de ter aprontado. dr. Fritz, então, explicou ponto a ponto. Falou do mensalão e do petrolão, lembrando que nunca antes na história deste país se viu tanta corrupção. Disse que Marcelo Odebrecht estava preso havia mais de ano e sua empresa havia fechado acordo com multa de quase R$ 7 bilhões. A roubalheira tomara proporções inimagináveis durante a gestão petista.

Além disso, contou que Dilma Rousseff fora eleita. Pedro riu, achando graça da piada. Mas era sério: Lula resolvera colocar seu “poste” no poder, e o povo engoliu! Estava empolgado demais com a bonança, fruto dos ventos externos. A “presidenta” – era assim que exigia ser chamada – não conseguia fazer uma frase com começo, meio e fim em sequência lógica, e ainda queria estocar vento.

A mesma esquerda que colocara o país nesse caos fazia de tudo para impedir as mudanças necessárias

Mas o pior não era sua estupidez, e sim sua arrogância, numa combinação explosiva. Dilma passara a acreditar que era mesmo uma boa gestora, mito criado pela mídia, e decidiu intrometer o governo em tudo que é setor. A bagunça foi generalizada e o estrago, total. Afundou a economia na maior depressão de nossa história.

Como resultado, veio o impeachment. A esquerda gritava “golpe”, alegando que tudo era uma vingança pessoal de Eduardo Cunha. Mas este acabou preso. E Renan Calheiros, outro cacique do PMDB, quase caíra também. O “golpe” se mostrava muito cruel com o partido de Temer, que antes fora aliado do PT e vice de Dilma. A imprensa chamava Temer de “conservador”, pois tudo aquilo que não é PSol é de “direita”.

O médico passou a falar de Sergio Moro, um juiz de Curitiba que contava com o apoio de milhões de brasileiros decentes, que faziam manifestações pacíficas, ao contrário da turma de esquerda, que quebrava tudo e sempre partia para a violência. Ele era o terror dos políticos poderosos, os mesmos que se lambuzaram com o PT no poder. Boa parte da cúpula do próprio PT estava presa, e Lula era questão de tempo, dizia.

Em seguida, relatou a esculhambação que tomou conta do STF, que o PT aparelhara com seus companheiros. Cada vez mais ativista, o próprio Supremo rasgava a Constituição com frequência.

Dr. Fritz foi categórico ao explicar que a mesma esquerda que colocara o país nesse caos fazia de tudo para impedir as mudanças necessárias. Disse que os economistas da Unicamp não fizeram mea culpa e ainda eram convidados para entrevistas na grande imprensa. Contou ao paciente que os novos gurus intelectuais da esquerda eram Gregório Duvivier e Tico Santa Cruz.

Pedro estava incrédulo, e uma lágrima podia ser vista escorrendo por seu olho esquerdo. Mas ainda faltava a cartada final: o médico revelou que Trump era o presidente eleito americano, o que pegou toda a mídia, torcedora, de calça curta, peladona mesmo. E o “racista” magnata indicara Ben Carson, um respeitado cirurgião negro, como secretário de seu governo. A confusão era absoluta.

Com a voz trêmula, Pedro falou: “doutor, será que você poderia me induzir ao coma por mais 14 anos?”

Rodrigo Constantino, economista e jornalista, é presidente do Conselho do Instituto Liberal.
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