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Como se estivesse inaugurando o “feminicídio”, um homem matou brutalmente a ex-mulher em um hospital de Venâncio Aires (RS), justamente quando a vítima aguardava o resultado do exame de corpo de delito devido às agressões do ex-marido. Pouco adianta, entretanto, o assassino ser enquadrado no novo tipo penal em vigor: mesmo condenado por crime hediondo, ele não será um presidiário, mas um “reeducando”, com direito a progressão de pena e visitas íntimas das futuras namoradas que poderá colecionar na cadeia.

Não é exagero afirmar que a transformação de criminosos em “reeducandos” – com graves implicações morais – é um efeito colateral das ideias de Paulo Freire. O autor da Pedagogia do Oprimido, espalhada em dezenas de idiomas pelo seu livro homônimo, assassinou Durkheim e divinizou Marx, transformando a educação numa arena política, em que o aluno concreto é sacrificado no altar da revolução. Para Freire e seus discípulos, nunca há responsabilidade individual no conhecimento e o aluno relapso ou delinquente vale até mais do que o aplicado, pois sua conduta é vista como uma contestação legítima ao sistema.

Essa pedagogia subversiva, que condena qualquer forma de punição para o aluno delinquente ou o criminoso contumaz, não hesita em defender tiranos, contanto que sejam de esquerda

O Estatuto da Criança e do Adolescente – incubadora de criminosos juvenis, que gangrena a sociedade brasileira – é fruto da mentalidade paulo-freiriana. O ideólogo que ajudou a redigi-lo, o pedagogo Antonio Carlos Gomes da Costa, abandonou a Faculdade de Medicina ao se apaixonar pela obra de Paulo Freire. Hoje, no sistema penal brasileiro, o preso é visto como o “bom selvagem” de Rousseau, tratado não como criminoso a ser justamente punido, mas como “reeducando” – o que transfere a culpa de seus crimes para a sociedade, condenada a se sacrificar por sua “reeducação” e “reinclusão”, como se latrocidas e estupradores não passassem de crianças indisciplinadas.

Amplificada pelo pensamento de Michel Foucault, a Pedagogia do Oprimido se transformou numa tirania do transgressor. Irônico é que essa pedagogia subversiva, que condena qualquer forma de punição para o aluno delinquente ou o criminoso contumaz, não hesita em defender tiranos, contanto que sejam de esquerda. No livro que o fez mundialmente famoso, Pedagogia do Oprimido, de 1970, publicado originalmente nos Estados Unidos, em inglês, Paulo Freire de-fende as execuções sumárias dos camponeses cubanos por Che Guevara (louvado como uma espécie de Jesus Cristo) e se inspira na sanguinária e obscurantista Revolução Cultural de Mao Tsé-Tung, que matou 65 milhões de chineses.

Freire diz que o líder revolucionário “há de desconfiar, sempre desconfiar, da ambiguidade dos homens oprimidos” e afirma que “desconfiar dos homens oprimidos não é propriamente desconfiar deles enquanto homens, mas desconfiar do opressor hospedado neles”. Com esse salto ôntico, ele destitui o oprimido de sua humanidade e o transforma em mero hospedeiro do opressor, autorizando o revolucionário a executá-lo em nome da revolução. Tanto que justifica literalmente as execuções sumárias da ditadura cubana: “A revolução é biófila, é criadora de vida, ainda que, para criá-la, seja obrigada a deter vidas que proíbem a vida”. Paulo Freire pode ser adotado até pelos jihadistas do Estado Islâmico: afinal, eles também acreditam que não estão matando seres humanos, mas meros hospedeiros da opressão ocidental.

José Maria e Silva, jornalista, é mestre em Sociologia.
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