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| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

A política brasileira sofre de apego ao passado. Até mesmo as forças progressistas deixaram de ser portadoras do Novo. Mas nunca foi tão urgente imaginar o futuro desejado e como construí-lo.

O Novo está mais no dinamismo decorrente da coesão social do que na disputa de interesses de grupos, corporações e classes: empresários precisam entender que há um interesse nacional comum a todos os brasileiros; os trabalhadores precisam perceber que a luta sindical não deve sacrificar a estabilidade nacional, nem o bem-estar do conjunto do povo. Ser moderno é servir aos interesses do público, seja com instrumentos estatais, privados ou em parceria.

O Novo exige que a economia seja eficiente, que a moeda seja estável e que o seu excedente seja usado para cuidar dos serviços públicos com qualidade e respeito aos usuários. O Novo está na educação de qualidade capaz de construir uma sociedade do conhecimento, da ciência, da tecnologia, da inovação, da cultura.

A política nova não está apenas na democracia do voto, mas também no comportamento ético dos políticos

O Novo não é mais a proposta da igualdade plena na renda, que, além de demagógica, é autoritária, ineficiente e não respeita o mérito, o empenho e as opções pessoais. O Novo está na tolerância com uma desigualdade na renda e no consumo dentro de limites decentes, entre um piso social que elimine a exclusão e um teto ecológico que proteja o equilíbrio ambiental. Entre esses limites, é preciso haver a escada social da educação que permita a ascensão das pessoas, conforme o talento e o desejo de cada um.

O Novo não está mais na ideia de uma economia controlada sob o argumento de ser justa, mas no entendimento de que o seu papel é ser eficiente sob regras éticas nas relações trabalhistas, no equilíbrio ecológico e na interdição de produzir bens nocivos. O Novo está na definição ética do uso dos resultados da economia eficiente para construir a justiça, com liberdade e sustentabilidade, especialmente garantindo que os filhos dos brasileiros mais pobres terão escolas com a mesma qualidade dos filhos dos mais ricos.

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O Novo não está na riqueza definida pelo PIB, na renda e no consumo, mas na evolução civilizatória; não está no número de carros produzidos, mas na eficiência com que funciona o transporte público. O Novo não está na velocidade com que se destroem florestas e sujam-se os rios, mas na definição de regras que permitam oferecer sustentabilidade ecológica e monetária. O Novo não está na segurança de mais prisões para bandidos, mas na paz entre os cidadãos.

O Novo não está mais no excesso de gastos e de consumo, mas na austeridade que permita sustentabilidade e bem-estar. A política nova não está apenas na democracia do voto, mas também no comportamento ético dos políticos, em eleições com baixo custo, espírito público sem corporativismo, e na apresentação de propostas para o futuro nos atuais tempos de mutação, mesmo que isso implique em suicídio eleitoral, porque em tempos de mutação os portadores do Novo correm o risco de solidão. Mesmo assim, é preciso dizer: o Novo está na educação.

Cristovam Buarque é senador pelo PPS-DF e professor emérito da Universidade de Brasília (UnB).
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