• Carregando...
 | Henry Milleo/Gazeta do Povo
| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

Pensando a respeito da importância da data que comemoramos neste 8 de março, passam pela minha mente várias mulheres que já cruzaram minha trajetória. Será que o Dia da Mulher, que representa o protagonismo feminino, tem o mesmo significado para mim e para as assistidas que atendi, vítimas de violência doméstica que buscavam na Defensoria Pública ajuda e acolhida para se livrar de uma situação de perseguição, abuso, violência e desamparo? E para as defensoras públicas que represento?

Difícil responder. As lutas e os obstáculos que as mulheres enfrentam são inúmeros, e a minha experiência na Defensoria mostra que sua intensidade acompanha o grau de vulnerabilidade de cada uma, seja em termos financeiros, seja em termos raciais, seja em termos de orientação sexual, seja em termos de local de trabalho, estado social, ser ou não mãe.

Mas existe um denominador comum nessa história. As dificuldades e os percalços da vida atingem de maneira desproporcional homens e mulheres. O desemprego e a pobreza não são sentidos da mesma forma por um homem e uma mulher, ainda que sejam da mesma classe social.

Nós, mulheres, compreendemos e nos solidarizamos uma com a outra. É sobre isso o dia de hoje

Um estudo salarial realizado pela Catho, em 2017, revela que a diferença de remuneração entre homens e mulheres pode chegar a quase 60% para o mesmo cargo. De igual sorte, mulheres têm mais dificuldade de se inserir no mercado de trabalho. Dados de 2015 levantados pelo IBGE apontam que a taxa de desocupação feminina, em todas as faixas etárias, era quase o dobro da taxa masculina entre os anos de 2004 e 2014. Além disso, a ausência de creche pública ou a impossibilidade de pagar uma creche particular quase sempre culminam no desemprego materno, e não paterno. E não é só isso: segundo relatório da Organização Internacional do Trabalho, publicado em 2012, 52% das mulheres afirmam já ter sofrido assédio sexual no trabalho, contra 20% por parte de homens.

Também em termos de segurança pública há desigualdade: eis que 81% das mulheres, em pesquisa realizada pelo site Think Olga em 2013, declararam já ter deixado de fazer algo, como andar na rua à noite e usar determinada roupa, por sentirem medo de assédio. Por fim, uma em cada três mulheres sofreu algum tipo de violência no Brasil no último ano, de acordo com uma pesquisa do Datafolha divulgada em 2017.

Leia também: Igualdade no mercado de trabalho (artigo de Léa Bueno, publicado em 3 de março de 2017)

Leia também: Participantes e cúmplices da violência contra a mulher (artigo de Tania Tait, publicado em 17 de junho de 2014)

O machismo não escolhe características. Não se pode negar, ainda, que as variadas formas de machismo acompanham todas nós, mulheres, em todas as etapas de nossas vidas. Por este motivo é que o movimento de mulheres, a consagração do Dia Internacional da Mulher, é tão relevante.

Ainda que o gênero de mulheres seja de fato um coletivo heterogêneo, formado por diversas mulheres que enfrentam a mais variada gama de problemas sociais, a condição feminina torna todos eles mais árduos e mais dificultosos. E é exatamente por meio da nossa união para eliminar o machismo, para empoderar uma à outra, e conscientizar a sociedade a respeito dessa situação é que poderemos extinguir essa diferença e desproporção.

Diz a música de Caetano Veloso, “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”; nós, mulheres, compreendemos e nos solidarizamos uma com a outra. É sobre isso o dia de hoje. Como propõe a Marcha Mundial das Mulheres, “seguiremos em marcha até que todas sejamos livres”.

Lívia Brodbeck é presidente da Associação dos Defensores Públicos do Paraná (Adepar).
0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]