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Tenho acompanhado as entrevistas dos pré-candidatos a prefeito para as eleições municipais de 2016, publicadas pela Gazeta do Povo, e me decepciono pela falta de propostas inovadoras e sustentáveis para a gestão de Curitiba. O tom quase sempre é o mesmo das velhas disputas políticas: atacar a atual administração e propor velhas fórmulas já desgastadas e tentadas anteriormente, muitas delas da época em que Curitiba tinha uma outra realidade e não era a metrópole que é hoje. A conurbação da região metropolitana da capital é hoje nosso principal desafio, e isso somente pode ser encarado com visões mais modernas de urbanismo. Não se trata de discutir se teremos metrô ou não, se devemos reforçar a segurança com a política de tolerância zero, de como se deve tirar os mendigos da rua ou acabar com o cartel do transporte público. Mas sim de qual seria um novo modelo de gestão mais participativa e inovadora para uma cidade que não para de crescer e que tem uma diversidade socioeconômica que precisa ser atendida em todas suas necessidades.

As quatro maiores universidades da capital pensam a cidade e produzem soluções, mas elas não são aproveitadas

Acaba-se de aprovar um novo Plano Diretor, que certamente teve a inclusão de propostas diferenciadas, muitas delas com base nas demandas levantadas nas audiências públicas. No entanto, não se viu nenhum pré-candidato mencionar o que realmente a população deseja que se torne uma política de investimento. Limitaram-se apenas a colocar suas posições individuais sobre os temas. Os candidatos sabem que a preocupação com a ciclomobilidade está entre as prioridades da população, representando 20% na respostas das pessoas, contra 5% em relação ao metrô? Aliás, o metrô vem atrás da reestrutração da linha férrea, com 12%! Alguém falou de modelos compartilhados, como o Uber, para reduzir o número de automóveis circulando na cidade, um dos nossos maiores problemas hoje? Algum pré-candidato apresentou alguma ideia de serviço social integrador por meio de trabalhos colaborativos e outras atividades para reintegrar os sem-teto, algo que não consista em apenas recolhê-los, afastando-os dos incomodados? Ninguém mencionou programas que já deram certo em outras cidades para aumentar a segurança, como a Vizinhança Vigiada – vizinhos cuidando uns aos outros em locais onde, com poucos recursos, foi possível reduzir a criminalidade, ajudando a criar um senso de comunidade.

Quando se fala de urbanismo, não há discussões inteligentes. O Centro da cidade está se verticalizando cada vez mais, criando “cânions urbanos” que alteram a incidência solar e a dispersão de poluentes, e criam microclimas, consequentemente alterando a qualidade de vida das pessoas que trabalham ou vivem nesses locais. Quando isso entrará na pauta de discussão dos nossos pré-candidatos? Quais são suas propostas para o ordenamento do solo urbano para que isso não fique apenas nas mãos da exploração imobiliária? É preciso incentivar bairros sustentáveis certificados e suas inúmeras possibilidades de mudar o perfil da cidade. Urge discutir edificações e cidades mais resilientes às mudanças climáticas – a ONU até já lançou um manual sobre o tema!

Quando falta dinheiro, tem de sobrar criatividade! Infelizmente não é o que se vê na maioria dos políticos de plantão da velha escola que concorrem à prefeitura de Curitiba. A cidade precisa de iniciativas econômicas inovadoras. Como devemos implantar a tal economia criativa de que tanto se fala hoje? Qual é o programa de governo que a torne viável, e não um apanhado de iniciativas? Como as startups podem colaborar para isso, não sendo somente empresas de desenvolvimento de games? Como implantar um desenvolvimento econômico sustentável no longo prazo, gerando empregos e renda, de baixa emissão de carbono? As propostas caem num vazio, não se apresentam metodologias práticas com resultados mensuráveis.

Vejamos o exemplo da produção de resíduos sólidos em Curitiba, que não foi abordado nas entrevistas, apesar de gerarmos hoje cerca de 2,6 mil toneladas de resíduos por dia. A campanha do Dr. Sigmundo para a redução do lixo, na atual gestão, e as Estações da Sustentabilidade, que usam contêineres, foram um avanço, mas tímido. Não temos uma solução para o resíduo orgânico, que representa cerca de 40% do total recolhido pela empresa contratada, o que significa que caminhões transportam, na verdade, água – e o contribuinte paga caro por isso! Compostagem, minhocultura, programas para hortas urbanas poderiam reduzir isso, mas passaram três anos sem nada ter sido feito! Gestões anteriores tampouco abordaram o problema.

As parcerias com instituições de ensino e pesquisa, que poderiam encaminhar propostas factíveis, não são estabelecidas; há impasses constantes com secretários municipais que sentam em seus cargos políticos e nada avança. Temos bons programas de pós-graduação nas quatro maiores universidades da capital, que pensam a cidade e produzem soluções, mas elas não são aproveitadas. Há quem até defenda que professores devem ser recebidos com bala de borracha, em vez de diálogo... Falta coragem, falta ousadia, falta pensar fora da caixa, faltam propostas de governabilidade modernas! Curitiba ainda não tem propostas para o século 21 e precisa de candidatos com visão de futuro!

Eloy F. Casagrande Jr. é professor e coordenador do Escritório Verde da UTFPR.
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