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É 31 de dezembro de 2016. Como o leitor imagina o título de uma reportagem com o balanço da administração Fruet na área da ciclomobilidade? “Curitiba, agora sim, pedalou”, disse-me o então candidato Gustavo Fruet, na mesma entrevista em que o político assumiu publicamente o compromisso de ir pedalando ao Palácio 29 de Março tomar posse caso fosse eleito. Na mesma oportunidade, em plena campanha eleitoral, Fruet se comprometeu ainda a implantar 300 quilômetros de novas ciclovias em Curitiba, além de recuperar toda a malha cicloviária existente. Também disse que a meta de seu governo seria criar condições para que 5% a 10% dos deslocamentos diários na capital paranaense fossem feitos por bicicletas.

Cumpridos quase dois terços de seu mandato de quatro anos, Fruet pedalou; Curitiba ainda não...

Nunca houve nada parecido na história desta cidade, com tantas mortes de ciclistas em tão pouco tempo

Mas mais importante do que avaliar o quão distante ainda estamos do cumprimento integral das promessas eleitorais é reconhecer e entender a gravidade da situação atual para quem usa a bicicleta como meio de transporte: nove ciclistas morreram em Curitiba e municípios da região metropolitana nas últimas cinco semanas – há ainda um ciclista internado em estado gravíssimo enquanto estas palavras são escritas. Sete destas tragédias ocorreram nas vias da capital paranaense. Nunca houve nada parecido na história desta cidade, com tantas mortes de ciclistas em tão pouco tempo. Essas mortes – todas elas evitáveis com políticas públicas adequadas – representam uma cicatriz profunda que jamais será apagada na história das famílias atingidas pela tragédia de um trânsito violento, quer o prefeito cumpra total ou parcialmente suas promessas até 31 de dezembro de 2016.

Apesar disso tudo, é preciso reconhecer que algo está sendo feito. Há boa vontade da atual gestão com a causa da bicicleta? É inegável! Houve avanços? Óbvio! É o suficiente? Honestamente, para quem pedala no dia a dia, todas as eventuais conquistas são praticamente irrisórias enquanto ciclistas continuam morrendo com uma velocidade assustadora no trânsito.

“Como reclamam esses cicloativistas radicais!”, dirão alguns na esperança de criar a útil figura do “inimigo da causa”. Deslegitimar as críticas não resolve os problemas – pelo contrário. Tal postura apenas revela que membros da administração Fruet sofrem de um quadro grave de Síndrome de Ricupero, aquela moléstia caracterizada por uma febre de governismo agudo que distorce os escrúpulos com a política do “o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde”.

Mais do que se autoproclamar uma administração amiga da bicicleta e postar fotos de ciclovias na página de humor institucional da Prefeitura de Curitiba nas redes sociais, Fruet e sua equipe precisam começar a tirar suas promessas e planos cicloviários do papel e fazer o que precisa ser feito para acabar com as mortes no trânsito. “Menos justificativas, mais ação”, como diria um cidadão indignado, adaptando livremente uma já surrada frase, muito ouvida por aqui nos últimos tempos quando o descontentamento suplanta os aplausos ou as curtidas em posts personalistas no Facebook.

Na manifestação em homenagem ao ciclista Alessandro Rüppel Silveira, o Magoo, uma placa de protesto deu voz a muitos ciclistas curitibanos que estavam calados: “Fruet, os ciclistas mortos são a distância entre a nossa realidade e a sua propaganda!” Essa distância, hoje, tem a infinidade de sete vidas.

Sim, Curitiba quer pedalar. Mas nunca foi tão difícil...

Alexandre Costa Nascimento, jornalista e cicloativista, é publisher do site Ir e Vir de Bike e membro do grupo Morte Zero no Trânsito de Curitiba.
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