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 | Ivonaldo Alexandre/Arquivo Gazeta do Povo
| Foto: Ivonaldo Alexandre/Arquivo Gazeta do Povo

Para combater a corrupção na origem, temos de investir na sua prevenção primária. Temos de disseminar a cultura do seu oposto: a integridade. Esta palavra é um substantivo feminino – do latim integritate, que significa “a qualidade do que é íntegro”. Seus sinônimos são honestidade e imparcialidade. No plano corporativo, já temos várias ações em andamento, como programas de compliance. Entretanto, é no plano moral e ético das pessoas, desde sua infância e adolescência, que se deve atuar por meio das orientações familiares e da escola.

O pacote de 10 Medidas de Combate à Corrupção e à Impunidade proposto pelo Ministério Público Federal inclui a realização de programas de conscientização em escolas e universidades, além de treinamento de funcionários públicos e privados em posicionamentos e estabelecimentos de códigos de ética. Vale exemplificar casos que podem inspirar futuros desvios de conduta ética, mas que normalmente não são considerados significativos, como colar na escola, emprestar a carteira de estudante de um colega para entrar em locais não permitidos para menores, furar fila, estacionar em locais proibidos, de idosos ou cadeirantes.

Muitos que criticam a corrupção são os que fazem gato de água, de luz e até de televisão

Outros exemplos são ficar nas redes sociais durante o trabalho ou indo e vindo ao banheiro ou café para matar o tempo. Parece-me um caso de corrupção, pois o funcionário não está sendo ético com seu empregador e seus colegas. Vamos ir além? Pedir um favorzinho ao agente público para dar um jeitinho de resolver o seu problema mais rápido que os demais, quem sabe fazendo vista grossa a alguma irregularidade legal que existe, mas que aquela pessoa acha irrelevante. Ou agir de forma desrespeitosa para vender facilidades ou mesmo atuar com lentidão desnecessária, por pura preguiça. Ou sonegar impostos porque eles são altos demais. Ou comprar produtos pirateados, pois os legalizados são muito caros. Roubar ou se corromper por milhões é um crime, mas tudo pode começar por essas atitudes “menores”.

Desde crianças precisamos desenvolver projetos que trabalhem a cidadania, eduquem para valores e fomentem a integridade. Desvios de conduta não estão só na política, nas grandes empresas ou nos órgãos públicos. A famosa corrupção está na cultura brasileira, no cotidiano. Muitos que criticam a corrupção são os que fazem gato de água, de luz e até de televisão.

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Mesmo que fosse possível contratar uma legião de fiscais, é impossível eliminar o contrabando de cigarros ou eletrônicos, por exemplo. Mas os caminhoneiros podem se recusar a participar deste crime, bem como o comerciante que pretende revender estes produtos.

Vários lugares no mundo vêm reduzindo seus níveis de corrupção atacando as duas pontas. Investigando e criando leis mais severas para punir os agentes da corrupção, de um lado; do outro, mudando a mentalidade das pessoas. Precisamos nos unir e combater a corrupção em nós mesmos, em nossa família, em nosso círculo de amigos e colegas, em nossa comunidade, em nossa política, em nossa sociedade, em nosso país. Assim ampliamos a legião de brasileiros íntegros e éticos para não permitir que corruptos e corruptores continuem a envergonhar e provocar tantos prejuízos ao Brasil.

Emerson Granemann, empresário, é um dos criadores do projeto Laços de Apoio ao Brasil.
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