• Carregando...
 | Beto Barata/Presidência da República
| Foto: Beto Barata/Presidência da República

Um governo gigante, ineficiente, corrupto, dono de muitas estatais e controlador indireto de grandes grupos empresariais privados, bancos públicos financiando grupos empresariais apoiadores do governo enquanto boa parte da população permanece pobre e financiando o sistema todo. Poderíamos estar facilmente falando do Brasil, mas o país em questão é a China.

Desde a abertura econômica chinesa, no fim dos anos 70, o país vivencia um ambiente de liberdade econômica muito maior que o Brasil, atraindo capital internacional em troca de baixos custos de produção, o que ajudou a impulsionar a economia chinesa.

Embora o país tenha sido um ótimo destino para empresas do mundo todo produzirem em um ambiente seguro e barato e, então, revenderem no resto do mundo, as empresas chinesas vivem uma situação diferente. Elas prosperam aproveitando o capital externo e o gigante mercado consumidor chinês, mas só se tornam grandes se obtêm apoio do Partido Comunista Chinês (CCP). Todos os grandes grupos empresariais chineses são apoiadores e beneficiários do CCP ou são empresas estatais. Os rumos dos investimentos das empresas chinesas não são ditados pelas forças de mercado, mas sim pelos interesses dos burocratas chineses.

O Brasil precisa analisar o risco que um aumento das relações com a China pode nos causar

Nos últimos anos, o ritmo de crescimento da economia chinesa vem desacelerando e isso apresenta uma ameaça ao regime. Por isso, a China está passando por uma mudança controlada em sua dinâmica econômica, apostando no mercado interno ao mesmo tempo em que expande os investimentos de empresas chinesas em outros países. A intenção do CCP em levar a economia chinesa para outros países não é apenas auferir lucros, mas ganhar influência e poder global: a China está se tornando uma forte potência imperialista.

Até o momento, assistimos à expansão chinesa pelos países asiáticos periféricos e pela África. A China anunciou seu plano “One Belt, One Road”, que tem como objetivo “recriar” a tradicional Rota da Seda. A intenção, com isso, é tornar o país a economia central do planeta e, para atingir esse objetivo, planeja-se uma série de grandes obras de infraestrutura em todo o mundo. São rodovias, ferrovias, portos e outros investimentos distribuídos por toda a Ásia, África e até Europa, tudo financiado por bancos chineses. Países africanos e asiáticos estão emprestando dinheiro de bancos chineses para contratar as empresas (chinesas, claro) que irão construir as obras do One Belt, One Road. Alguns desses países, como o Quênia, já estão altamente endividados com a China e sem nenhum ganho real de infraestrutura, forçando a necessidade de novos empréstimos e aumento da influência chinesa sobre a África.

Hoje há duas fontes de financiamento do governo venezuelano: a China e Rússia. A conta da dívida venezuelana com a China cresceu e, portanto, está sendo paga na forma de petróleo, como foi solicitado pelo governo chinês. Isso tem financiado o governo Maduro e ajudado a mantê-lo no poder.

Há muito ainda a ser falado sobre as intenções chinesas na Europa, sobre a censura que reina no país, o sumiço de pessoas, a perseguição à oposição e aos praticantes da técnica de meditação Falun Gong, roubo de órgãos de prisioneiros políticos, militarização e controle de águas internacionais ou de outros países no Mar da China e outros assuntos importantes.

O Brasil precisa analisar o risco que um aumento das relações com a China pode nos causar. Desde os governos Chávez na Venezuela e Cristina Kirchner na Argentina, a China vem tentando ganhar influência na América Latina, mas esses ganhos de espaço têm sido limitados a alguns investimentos e parcerias estratégicas. Agora, com a necessidade de financiamento do governo brasileiro, estamos voluntariamente nos expondo mais àquele país.

Leia também: A privatização da Eletobras (editorial de 24 de agosto de 2017)

Leia também:Privatizações sem privatistas: o desafio de Temer (artigo de Lucas Berlanza, publicado em 5 de setembro de 2017)

O plano de privatizações do governo Temer tem como principal objetivo arrecadar caixa para o Estado; não está, em momento algum, sendo visto como um plano ideológico visando vender os ativos estatais para modernas e eficientes empresas privadas que melhorarão os serviços, investirão e ajudarão o país a crescer, buscando aumentar a liberdade econômica e diminuir a influência do governo na economia. Não. O objetivo é apenas encher o caixa. Ponto. O problema é que o presidente Temer apresentou os planos de privatização à China, inclusive com uma visita ao presidente chinês, Xi Jinping.

Analisando a realidade das empresas chinesas, não estaremos privatizando nada ao vender para eles; estaremos apenas reestatizando, mas agora com o governo chinês sendo o controlador de nossas empresas e serviços. Precisamos buscar parceiros em países onde a visão de negócios e liberdade econômica é respeitada, como Austrália, Canadá, Estados Unidos e os países da Europa Ocidental.

Mesmo que o governo continue tendo poder de veto nas decisões das futuras estatais chinesas que vão operar aqui, ainda assim a influência do Partido Comunista Chinês sobre o Brasil vai crescer. Poderemos vê-los inclusive interferindo financeiramente em campanhas eleitorais futuras em vista de defender os interesses chineses no Brasil – e dinheiro para isso não faltará.

Precisamos privatizar nossas estatais e modernizar nossa economia, mas isso deve ser feito com uma visão ideológica mais clara, melhorando o ambiente de negócios no país. Entregar nossas empresas ao Partido Comunista Chinês pode nos trazer ainda mais problemas futuros.

José Roberto Baschiera Junior é empresário no ramo de câmbio e acadêmico do curso de Economia.
0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]