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Felipe Lima

Shimon Peres ocupou quase todos os principais cargos públicos em Israel. Foi primeiro-ministro duas vezes, presidente e chefiou quase todos os ministérios. Foi o último da geração dos pioneiros fundadores do Estado de Israel (em 1948) a deixar o cenário da história. Na sua longa folha de serviços públicos de mais de 70 anos, destacam-se os esforços que dispendeu por toda a vida: a busca incansável pela paz.

Em 1993, como um dos subscritores dos Acordos de Oslo – primeiro tratado de paz entre Israel e os palestinos, declarou: “Vivemos numa terra antiga e pequena e por isso nossa reconciliação deve ser grande”. Porém, os acordos firmados com os palestinos nunca se traduziram numa paz duradoura como almejava.

Ainda assim, ele nunca esmoreceu. Pelo contrário, cristalizou a essência da paz em seu discurso. Shimon Peres será lembrado como a esperança de uma visão do Oriente Médio, na qual Israel pode coexistir em harmonia com seus vizinhos árabes, compartilhar a água, a tecnologia, a ciência e proporcionar cooperação para o desenvolvimento econômico, social e cultural da região, através de fronteiras e espíritos abertos. Um sonho que ele procurava tornar realidade.

Peres, no entanto, não era apenas um sonhador romântico. Foi também um pragmático surpreendente. Quando recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1994, falou filosoficamente sobre o poderio militar israelense que ajudou a construir: “As guerras que fomos forçados a lutar, graças às Forças de Defesa de Israel, ganhamos todas, porém não tivemos a maior vitória que eu aspirava: a de nos libertarmos da necessidade de conquistar vitórias!”

Ele nunca foi um militar, mas serviu como ministro da Defesa em 1976, quando terroristas sequestraram um avião com passageiros da rota Atenas-Paris e o desviaram para Uganda. Foi o famoso caso Entebbe, celebrado em filmes e livros, com comandos israelenses invadindo o terminal do aeroporto, matando os sequestradores e libertando quase todos os reféns. Pouca gente sabe que ele teve um papel preponderante no episódio, e depois traduziu a alegria e o alívio de Israel em palavras. “Esta foi uma operação sem precedentes, a mais ousada que poderíamos imaginar.”

Ele fundou, em 1997, o Centro Peres para a Paz, que leva tratamento médico e salvou vidas de 12 mil crianças árabes

Nascido em 1923 na região que hoje é a Belarus, era descendente de um grande rabino. Na infância, viveu o antissemitismo e a violência contra judeus em sua cidadezinha. Aos 11 anos, cinco antes do Holocausto, foi com parte da família para Israel, mas os parentes que ficaram foram assassinados pelos nazistas.

Peres fez o que pôde pela paz. Fundou, em 1997, o Centro Peres para a Paz, que leva tratamento médico e salvou vidas de 12 mil crianças árabes, treinou mais de 250 médicos árabes e profissionais de saúde em hospitais israelenses, e promove a cooperação entre israelenses e palestinos. Em 2015, perguntado quando olhava para trás, para os mais de 70 anos de sua vida pública, como fundador de Israel e como o arquiteto dos Acordos de Oslo, do que mais sentia orgulho, respondeu como sempre viveu: “As coisas que eu deveria fazer amanhã”.

Em 28 de setembro, quando Peres morreu, apagou-se uma luz que, no entanto, deixou acesa a chama da esperança pela paz.

Szyja Lorber, professor de Geografia, História e Estudos Sociais, é jornalista e especialista em conflitos do Oriente Médio.
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