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| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Jovens de classe média e média alta têm frequentado o noticiário policial. Crimes, vandalismo, consumo e tráfico de drogas deixaram de ser uma marca registrada das favelas e da periferia das grandes cidades. O novo rosto da delinquência, perverso e surpreendente, transita nos bares badalados, estuda nos colégios da moda e vive em elegantes condomínios fechados.

O comportamento das gangues bem-nascidas, flagrado em inúmeras matérias, angustia o presente e ensombrece o futuro. O fenômeno, aparentemente incompreensível, é o reflexo lógico de uma montanha de equívocos. O novo mapa do crime não é fruto do acaso. É o resultado acabado da crise da família, da educação permissiva e do bombardeio de certa mídia que se empenha em apagar qualquer vestígio de valores objetivos.

Os pais da geração transgressora têm grande parcela de culpa. Choram os delitos que prosperaram no terreno fertilizado pelo egoísmo e pela omissão. Compensam a ausência com valores materiais. O delito não é apenas reflexo da falência da autoridade familiar. É, frequentemente, um grito de carência afetiva.

Algumas teorias no campo da educação (ou da deseducação), cultivadas em escolas que renunciaram à missão de educar, estão apresentado sua fatura. Uma legião de desajustados, crescida à sombra do dogma da educação não traumatizante, está mostrando sua cara.

Notável é o entusiasmo dos adolescentes com inúmeras iniciativas no campo do voluntariado

A informação sobre a juventude, no entanto, prioriza um recorte da realidade, mas frequentemente sonega o outro lado, o luminoso e construtivo. O aumento dos casos de aids, da violência e a escalada das drogas castigam a juventude. A crise econômica, dramática e visível a olho nu, exacerba o clima de desesperança.

Mas olhemos, caro leitor, o outro lado da realidade. Verdadeiro e factual, embora menos noticiado por uma mídia obcecada pela síndrome da informação sombria. Jornais, frequentemente dominados pela síndrome do negativismo, não têm “olhos de ver”. Reportagens brilhantes, iluminadoras de iniciativas que constroem o Brasil real, morrem na burocracia de um jornalismo que se distancia da vida e, consequentemente, de seus leitores.

A delinquência, na verdade, está longe de representar a maioria esmagadora da população estudantil. Denunciar o avanço da violência e a falência do Estado é um dever ético. Mas não é menos ético iluminar a cena de ações construtivas, de gestos de solidariedade, de magníficas ações de cidadania.

A juventude, ao contrário do que fica pairando em algumas reportagens de comportamento, não está tão à deriva assim.

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O fecho destas considerações não é pessimista. Os problemas existem, mas não esgotam toda a realidade. Na verdade, outra juventude emerge dos escombros. Toda uma geração, perfilada em dados de várias pesquisas, está percorrendo um itinerário promissor. Notável é o entusiasmo dos adolescentes com inúmeras iniciativas no campo do voluntariado. O engajamento dos jovens na batalha da qualificação profissional é indiscutível.

Assiste-se, na universidade e no ambiente de trabalho, ao ocaso da ideologização e ao surgimento de um forte profissionalismo. Ao contrário das utopias do passado, os jovens acreditam na excelência e no mérito como forma de fazer a verdadeira revolução. Eles defendem o pluralismo e o debate de ideias. O pensamento divergente é saudável. As pessoas querem um discurso diverso, não um local onde se pregue apenas uma corrente de pensamento.

Há, de fato, um Brasil real que está muito distante da imagem apregoada pelos pessimistas de sempre. Precisamos, não obstante a gravidade dos problemas, recuperar a autoestima. A imprensa que denuncia cumpre um papel ético. Mas, ao mesmo tempo, não deve confundir independência com incapacidade de dar boas notícias. Nossa função não é antinada, mas a favor da informação verdadeira. Por isso, o texto que denuncia a cruel desenvoltura do banditismo bem-nascido é o mesmo que registra o outro lado: o da esperança iluminada.

Carlos Alberto Di Franco é jornalista.
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