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 | Daniel Castellano 
/Gazeta do Povo
| Foto: Daniel Castellano /Gazeta do Povo

Vivemos em um dos países mais ricos do planeta. Aqui não estou tratando sobre finanças ou economia. Nossa fauna e flora pujantes demonstram que somos referência para o mundo quando o assunto é meio ambiente. O Brasil tem 61% do território coberto por vegetação natural, de acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), e 8.930 espécies registradas de animais vertebrados, segundo o Ministério do Meio Ambiente. É aqui que está 12% da água potável de todo o mundo. A soma de todos esses fatores resulta na existência de milhares de formas de vida, denominada biodiversidade, um bem que devemos cuidar com todo o carinho.

Aliás, o nosso papel, aqui englobando todos os setores, desde a sociedade, academia, passando pela indústria, até o setor público, não é simplesmente cuidar, mas criar e participar de iniciativas para conservar e fazer com que a nossa biodiversidade prospere. Foi pela intervenção humana que espécies foram dizimadas e muitas estão sob ameaça de extinção. Foi pela atuação do homem que pragas e doenças acabaram se espalhando. Aqui vale, inclusive, uma menção à dengue e à febre amarela, que causaram e ainda causam certo temor na população. De origem africana, o mosquito Aedes Egypti encontrou no cenário urbano desorganizado o local adequado para se proliferar. Não podemos desrespeitar a natureza, invadi-la e maltrata-la. O desequilíbrio dos ecossistemas e a intervenção na biodiversidade afetam diretamente a sobrevivência humana.

É bastante preocupante constatar que, desde 1990 até 2017, como relatado em estudo da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), houve diminuição de 3% em áreas ocupadas por florestadas no mundo. Em 2010, durante a 10ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica das Nações (COP 10), foram estabelecidas as Metas de Aichi, com 20 proposições para redução da perde de biodiversidade no mundo no período 2011-2020. Logo após o estabelecimento dessas metas, o Brasil, por meio do Ministério do Meio Ambiente, deu início a um processo de internacionalização e definição das metas nacionais. Um processo longo, hoje com metas sendo discutidas no âmbito da Comissão Nacional de Biodiversidade (Conabio). O setor privado, por sua vez, não pode e não quer ficar de fora deste debate.

Indústrias e projetos devem incorporar o alcance das metas em seu planejamento estratégico, visando a proteção e o manejo sustentável da biodiversidade

É nosso dever olhar para a biodiversidade. Indústrias e projetos devem incorporar o alcance das metas em seu planejamento estratégico, visando não apenas a geração de produtos e serviços, mas também a proteção e o manejo sustentável da biodiversidade.

Envolvimento do poder público em cada país é muito importante. Aqui no Brasil, o Código Florestal é uma regulamentação que define como os recursos naturais devem ser manejados, o que indiretamente garante que a biodiversidade seja mantida. O cumprimento garante a manutenção de fragmentos florestais, de corredores ecológicos.

O setor de árvores plantadas, por exemplo, conserva 5,6 milhões de hectares de áreas naturais na forma de Áreas de Preservação Permanente (APPs), Reserva Legal (RL) e Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs). Ou seja, para cada 1 hectare de florestas para fins produtivos, é protegido 0,7 hectare de ecossistemas naturais, que são habitats para a biodiversidade local. Adicionalmente, o setor recuperou, em 2017, cerca de 50 mil hectares de áreas degradadas, com vegetação natural, buscando restaurar a biodiversidade local.

Em um levantamento recente, que compila dados de diferentes estudos feitos nas áreas manejadas pelo setor de base florestal do Brasil, foi constatado que nas áreas manejadas pelas empresas (incluindo as áreas de efetivo plantio e de conservação que formam os mosaicos na paisagem) foram registradas 985 espécies de aves e 241 de mamíferos, entre outras espécies, que indicam que a indústria de base florestal, mesmo com representatividade de menos de 2% de todo o território, possui um papel fundamental nesta causa.

Leia também: As trincheiras são a solução para o trânsito das cidades? (artigo de ndrei Crestani, Marta Gabardo e Sylvia Leitão, publicado em 29 de abril de 2018)

Nossas convicções: Os responsáveis pelo bem comum

Neste sentido, as certificações tornaram-se um ponto diferencial para o setor de árvores plantadas, já que os sistemas possuem indicadores que demandam o monitoramento ou até o manejo da biodiversidade. O Forest Stewardship Council (FSC) e o Programa Nacional de Certificação Florestal (Cerflor), endossado pelo sistema internacional Programme for the Endorsement of Forest Certification Systems (PEFC), são as maiores certificações florestais, reconhecidas como uma ferramenta para a gestão florestal ambientalmente responsável, socialmente adequada e economicamente viável.

A indústria deve continuar investindo em tecnologia e criatividade para propor novas soluções. Segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), de 2016, 86,7% dos gestores empresariais reconhece a importância do negócio para os negócios. Recentemente, cientistas australianos inovaram e colocaram em prática uma ação muito interessante, que auxiliará a incrementar o modo de cuidar da biodiversidade. Por meio de um aparelho que grava sons ambientes, os profissionais captam barulhos de animais que não são possíveis de serem gravados com a presença humana, desta maneira aumentando a riqueza de detalhes para o banco de dados e monitoramento dos animais que vivem na floresta.

Precisamos de atitudes. Esse é um assunto que não pode esperar e somente agindo, em conjunto, com ONGs, comunidades do entorno das áreas de operação e a sociedade, conservaremos a biodiversidade e garantiremos um futuro melhor para as próximas gerações.

Elizabeth de Carvalhaes é presidente executiva da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá) e presidente da Comissão de Meio Ambiente e Energia da International Chamber of Commerce (ICC) do Brasil.
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