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 | Henry Milleo
/Gazeta do Povo
| Foto: Henry Milleo /Gazeta do Povo

Sinto uma dor infinita quando percorro algumas regiões do meu país. Ao andar por certos lugares, cresce em mim profunda melancolia. Não a saudade comum, da infância perdida, mas a triste sensação de que valores preciosos e afetivos foram perdidos para sempre. É como se a paisagem local, de alguma maneira, me incomodasse. Uma nostalgia que não permite a possibilidade do retorno, da volta. Nostalgia, que vem do latim, de nostos (regresso, retorno) e algi (dor). A dor e a angústia do retorno para casa.

Vivo este sentimento quando percorro as regiões do Norte Velho do Paraná ou de Canoinhas, em Santa Catarina. É assim também em algumas partes do interior mineiro e de Mato Grosso. Há alguma coisa no ar que me toca e traz densa tristeza. Até há pouco tempo, não sabia explicar a razão desse sentimento. Hoje sei.

Brasil de tristes trópicos e de povo descuidado. O que era seu agora não é mais

É a paisagem triste das macegas, dos capoeirões, dos pinheiros raquíticos, das erosões e dos morros pelados. Terras praticamente sem uso e, quando usadas, ocupadas por algumas cabeças de gado pastando.

É a tristeza da alma que vê uma paisagem que não existe mais, que ficou no subconsciente. Meu olhar sutilmente reconhece que ali, um dia, existiram matas exuberantes, cheias de vida, pássaros, animais e água farta. É como se, ao mesmo tempo, o olhar que vê o cenário da destruição também visse um passado de florestas exuberantes. Ao comparar, sinto a falta da paisagem que se foi. O belo deixou de ser belo. Almas percebem isso, homens não. É por isso que minha alma chora. E chora mais ainda quando vê as eternas notícias sobre os conluios de autoridades com os que, apesar de todos os alertas, teimam em destruir o nosso bem comum: as florestas que até agora garantiram a vida em nosso planeta.

Brasil de tristes trópicos e de povo descuidado. O que era seu agora não é mais. Do patrimônio comum a todos sobraram perdidas migalhas para poucos. Esta é a verdadeira herança maldita. No futuro, para os nossos descendentes, faltará uma paisagem a ser comparada. Se houver futuro.

Eloi Zanetti é escritor, palestrante e especialista em criatividade, marketing e comunicação corporativa.
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