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| Foto: Felipe Lima

O que representa a visita do presidente Donald Trump ao Muro das Lamentações, na segunda-feira, em Jerusalém? Antes, é interessante notar que a primeira viagem internacional do mandatário norte-americano parece, de forma curiosa, ter algo a ver com as três crenças monoteístas. Iniciou seu périplo na Arábia Saudita, berço do islamismo; seguiu para Jerusalém, centro do judaísmo; e depois foi a Roma, sede do cristianismo, antes de ir para a reunião da Otan, em Bruxelas.

A visita de Trump ao Muro Ocidental foi um ato de respeito e de cuidadosa escolha pessoal do presidente. Tocando as milenares pedras do que restou do sagrado Templo de Jerusalém, após ler salmos com os rabinos, durante alguns instantes ficou sozinho, contemplando a proximidade da Providência Divina, inclinou-se ligeiramente, talvez tenha rezado um pouco, e colocou um bilhete com seu pedido numa fenda à sua frente. O simbolismo dessa nesga de religiosidade — ele ainda esteve na Basílica do Santo Sepulcro e em Belém —, entretanto, vai além porque se tratou de uma cena histórica.

Trump quis deixar claro que houve uma mudança e que ele considera o Estado judeu um importante aliado

Este fato traduz-se em um novo marco nas relações entre os Estados Unidos e Israel para o processo de paz, após dois mandatos de Barack Obama denotando hostilidade a Israel. Trump quis deixar claro que houve uma mudança e que ele considera o Estado judeu um importante aliado. Foi a primeira vez na história que um presidente norte-americano em exercício foi ao Muro das Lamentações. Isso pode também ter sido um repúdio às resoluções da Unesco que negam os vínculos judaicos com a terra de Israel. Em seus discursos, Trump ressaltou a conexão judaica com a área ao dizer que “os laços do povo judeu com esta Terra Santa são antigos e eternos”, e recordou ainda Jerusalém como capital do Reino de Davi.

Ele deu sinais amplos de cordialidade e aproximação com os israelenses, às vésperas das comemorações dos 50 anos da retomada da Cidade Velha de Jerusalém e do Muro Ocidental na Guerra dos Seis Dias, em 1967. Não declarou a mudança da embaixada de Tel Aviv para Jerusalém, como muitos esperavam por causa dos reiterados anúncios durante a campanha eleitoral, mas tampouco falou de uma divisão da cidade. Outros líderes americanos já estiveram no Muro, mas nunca no exercício do poder. Sua decisão de visitar a Cidade Velha teria sido uma afirmação tácita de que reconhece Jerusalém como capital de Israel. Pode parecer óbvio, mas não é. A política externa dos EUA não considera que Jerusalém faça parte de Israel. Tanto as administrações democratas quanto as republicanas sempre disseram que o status de Jerusalém deve ser resolvido por meio de negociações e, por isso, a embaixada americana está em Tel Aviv.

Do mesmo autor:  Shimon Peres, estadista que personifica Israel (1.º de outubro de 2016)

Leia também:O Brasil contra Israel e a história na Unesco (artigo de Alexandre Nigri, publicado em 21 de outubro de 2016)

A resolução da Partilha da Palestina, de 1947, considerou que Jerusalém seria um corpus separatum, isto é, um território internacionalizado. Para os americanos, a não implementação não significou sua revogação. Surpreendentemente, na mesma segunda-feira da visita, no site da Casa Branca, pela primeira vez, eram noticiadas as declarações do presidente Donald Trump e do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em “Jerusalém, Israel”. Pode ser outra mudança. Trump abriu novas perspectivas de um acordo entre israelenses e palestinos, dizendo: “Temos diante de nós uma rara oportunidade de levar segurança, estabilidade e paz à região“.

Szyja Lorber é jornalista, professor de Geografia e História e especialista em conflitos do Oriente Médio.
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