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Ao se falar em pesquisa no Brasil, necessariamente deve-se mencionar a universidade. Foi ali que ela nasceu, se desenvolveu e assumiu contornos nacionais e internacionais. Como a universidade, porém, é muito recente, o Brasil inicia sua presença no mundo da ciência apenas nas décadas de 50 e 60 com a criação de várias agências de financiamento e formação de recursos humanos, além de um sólido sistema universitário público e privado. Mesmo assim, o país conta hoje com um dos melhores sistemas de pós-graduação do mundo, que forma mais de 40 mil mestres e 15 mil doutores por ano, além de uma produção científica que alcançou 46,7 mil artigos em 2012, o que torna o país o 14.º maior produtor de pesquisa científica do mundo, à frente de vários países desenvolvidos. Apesar das diferenças regionais, esse sistema alcança, aos poucos, o país todo, e tem como ápice as 25 Fundações de Amparo à Pesquisa estaduais.

É preciso acentuar, porém, que, apesar do enorme avanço verificado, a ciência brasileira ainda sofre vários percalços. O volume de recursos aplicado pelo Brasil em pesquisa e desenvolvimento (P&D), apesar de ter melhorado nos últimos anos, ainda está muito aquém da demanda. Em 2011 foi de 1,21% em relação ao PIB, que não chega à metade do que foi aplicado no mesmo período por Coreia (4,03%), Japão (3,39%), Estados Unidos (2,77%) ou Alemanha (2,88%). Já o dispêndio em P&D per capita no Brasil em 2011 atingiu US$ 141,80, valor em média nove vezes abaixo dos mesmos países. Outro problema é a falta de regularidade. Nada é mais danoso para um projeto de pesquisa em andamento do que a interrupção ou atraso no repasse de recursos. Também chama a atenção o impacto das publicações brasileiras – medido com base na média de citações por artigos –, que não tem acompanhado a curva da produtividade.

Além desses problemas, a pergunta que começa a ecoar é se esse sistema, como está hoje, é suficiente para alavancar o desenvolvimento do país, retirando-o da condição de produtor de commodities, incluindo camadas menos favorecidas, contribuindo, enfim, para a construção de um país mais justo, solidário e soberano. As áreas nas quais publicamos e formamos os recursos humanos, por sua vez, têm a ver com as reais demandas do país? Qual o nível de inovação resultante desse volume de publicações? Ou toda essa ciência, reconhecidamente de alto nível, encerra-se no momento da sua publicação em um periódico? É importante considerar que exemplos da competência brasileira em inovar, quando há planejamento e financiamento apropriados, não faltam. É o caso da Embrapa, uma das grandes responsáveis pelo sucesso do nosso agronegócio; da Coope, da UFRJ, responsável pela tecnologia da exploração de petróleo em águas profundas; da Embraer; da Fiocruz; das pesquisas na área de biotecnologia. São exemplos de ciência brasileira que não ficaram "só na ciência".

A situação da pesquisa brasileira, portanto, demanda um olhar mais criterioso e, acima de tudo, mais preocupado com o seu efeito no país. É tempo de o país colocar a sua ciência no horizonte do seu futuro não apenas como papers, mas como artífice decisivo da sua transformação. Este foi o caminho trilhado por todos os países hoje desenvolvidos. É o caminho da inovação.

Felizmente o país parece ter acordado. Já existem, há alguns anos, várias agências, em especial a Finep, que vêm desenhando robustos programas de financiamento, buscando induzir parcerias entre empresas e universidades para transformar a tecnologia desenvolvida no âmbito da academia em inovação. No ano passado o Brasil anunciou o "Inova Empresa", um programa de R$ 32,9 bilhões, projetado para aumentar a produtividade e competitividade da economia brasileira por meio da inovação tecnológica. Esse e outros programas de responsabilidade federal e estadual apontam para uma mudança de postura, tornando a inovação um programa de Estado. Certamente este é o caminho.

Waldemiro Gremski é reitor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

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