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 | Ayrton Vignola/Estadão Conteúdo
| Foto: Ayrton Vignola/Estadão Conteúdo

Desde a semana passada no foco das atenções por causa das delações de vaca premiada de Joesley e Wesley Batista, o grupo JBS foi o que mais investiu na eleição de 2014: mais de R$ 100 milhões. A confissão e as provas apresentadas pelo empresário à Lava Jato mostram que a palavra correta não é doação de campanha, mas investimento.

Na Câmara dos Deputados, a JBS ajudou a eleger a maior bancada: 178 políticos, com o impressionante investimento de R$ 53.962.807,92 para atender 21 dos 28 partidos representados na casa. Também maior investidora da campanha para o Senado, o grupo empresarial investiu R$ 9,3 milhões.

Na campanha presidencial, a JBS também superou os demais investidores. No primeiro turno, investiu R$ 10 milhões, metade para a campanha de Dilma Rousseff e metade para a de Aécio Neves – ambos denunciados na delação.

A compra de políticos começou em 2002 de forma um tanto modesta para os padrões posteriores da JBS. Meros R$ 200 mil foram destinados às eleições. Quatro anos depois, a aplicação de recursos começou a ganhar escala. Somando o que foi investido nas eleições de 2006, 2008, 2010 e 2014, o grupo empresarial destinou R$ 463,4 milhões para eleger políticos e beneficiar seus respectivos partidos.

O sistema que Joesley e Wesley agora criticam só existe porque existem empresários como eles

Por que, afinal, dois empresários do setor de carnes decidiram investir na política e não apenas na economia? A principal razão para um homem de negócios dar dinheiro para político é para ser beneficiado ou para não ser prejudicado. Em ambos os casos, entretanto, o objetivo é ter privilégios frente aos demais.

Eike Batista começou a comprar políticos para facilitar seus negócios na mineração e petróleo, segmento altamente regulado pelo Estado. Joesley e Wesley Batista não; eles o fizeram para obter crédito barato do governo e ter sempre à disposição políticos em várias esferas de poder. Não sendo parentes Eike e os irmãos da JBS, o sobrenome virou destino (obrigado, Nelson Rodrigues).

Fundada em 1953 pelo patriarca da família, que abriu um açougue em Anápolis (GO) e iniciou a expansão empresarial, a JBS é hoje um grupo internacional com 270 mil funcionários. É a maior processadora de carne do mundo e controla empresas de derivados de leite, vestuário, celulose, calçados, produtos de higiene e limpeza, banco e companhia de energia.

Sob o governo Lula, a JBS foi alçada à categoria dos “campeões nacionais”, seleto grupo de empresas financiadoras do PT que recebeu anabolizante estatal para se tornar player global. O governo usou o BNDES para financiar a expansão mediante crédito subsidiado e, em 2011, tornou-se grande acionista em troca de pagamento de dívidas, que provavelmente não seriam quitadas. Em retribuição, Joesley matinha uma conta secreta na Suíça com US$ 150 milhões para atender Lula e Dilma Rousseff.

Eu perguntava por que, afinal, empresários do setor de carnes decidiram investir na política e não no mercado. A contabilidade ajuda a explicar. Em 2006, o faturamento da JBS era de R$ 4,3 bilhões. Entre 2005 e 2014, a empresa obteve R$ 2,5 bilhões de empréstimos junto ao BNDES para financiar exportações e comprar equipamentos. Em 2016, o faturamento saltou para R$ 170 bilhões. Comprar políticos foi, como se vê, um excelente negócio. Outro ótimo negócio foi obtido com a delação de vaca premiada. Joesley e Wesley conseguiram livrar-se da prisão e pagar módicos R$ 225 milhões para abrir a caixa-preta da corrupção. A ver se o acordo também foi bom para o país.

Na carta que pretendia ser um pedido de desculpas ao povo brasileiro, Joesley usou eufemismos. Corrupção virou interação “com o poder público brasileiro” e a entrada da JBS no brejo profundo foi explicada pela “imensa vontade de realizar” que se chocou contra “um sistema que muitas vezes cria dificuldades para vender facilidades”. Até onde sabemos, Joesley e Wesley não foram obrigados a se corromper. Fizeram porque quiseram. O sistema que criticam só existe porque existem empresários como eles. A carta tenta minimizar a responsabilidade de ambos. Só faltaram culpar as elites. Merecem o Troféu Luiz Inácio Lula da Silva.

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