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Há boas ideias que podem dar muito errado, e más ideias que podem dar tremendamente certo. A Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila, com perdão do trocadilho) pode ser ambos. Uma universidade na Tríplice Fronteira, com alunos e professores comunicando-se em português e espanhol, estes dois dialetos tão semelhantes, pode ser uma excelente contribuição à integração entre o Brasil e o continente às nossas costas. Por outro lado, dá para desconfiar que tipo de integração se vise na 13.ª universidade federal criada pelo PT, mais ainda quando tal integração é sempre dita “da América Latina e do Caribe”. Não creio que se fale de Cancún, Jamaica ou Bahamas quando falam do Caribe, e sim da ilha-prisão da família Castro.

Além dos problemas decorrentes da proposta inovadora da Unila, contudo, questões desnecessárias vêm tentando fazer dela menos uma universidade e mais um local de politicagem barata. Num surto de democratismo irracional e ilegal, o governo da universidade foi entregue a uma comissão em que funcionários, alunos e professores têm paridade. O MPF está tentando resolver a situação, mas ainda não sabemos no que isso vai dar.

Questões desnecessárias vêm tentando fazer da Unila menos uma universidade e mais um local de politicagem barata

Por ora, ao menos, os porteiros e carimbadores de papel têm tantos representantes quanto os mestres, e a meninada que acaba de chegar lá para supostamente aprender também. A atividade-fim da universidade – ensino e pesquisa – foi considerada equivalente ao bem-estar dos contínuos ou às besteiras da moda entre os alunos. Um professor para cada dois não professores: é o oposto do mínimo legal de 70% de professores em órgãos representativos.

Ora, o papel dos funcionários é possibilitar que os professores e os alunos trabalhem. Ainda que tenham o direito de serem respeitados, pagos em dia etc., é absurdo dar-lhes direito a voto, que dirá em paridade com os professores. Funções secundárias e subordinadas não podem ser equiparadas à atividade-fim; direitos dos funcionários devem ser cobrados de fora, por um sindicato, não pela presença deliberativa deles no governo da universidade. Dar-lhes esta paridade é tão absurdo quanto seria dar às Forças Armadas paridade com a população brasileira no Congresso e no Senado.

Do mesmo modo, os alunos, por definição, não sabem ainda o que é o melhor. São jovenzinhos recém-chegados do colégio, que têm por função abaixar as orelhas e aprender. Depois de concluir a graduação, talvez alguns saibam propor melhorias, ao perceber com visão de conjunto o que lhes faltou ao longo do curso. Equipará-los aos professores, todavia, é um democratismo sem sentido, que só ajuda os politiqueiros e agitadores que excitam os alunos para usá-los como massa de manobra.

Espero que a Unila sobreviva e dê certo.

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