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 | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

A prisão preventiva serve para impedir que criminosos contumazes continuem agindo. Ela poderia ter sido inventada para o caso do José Dirceu, tanto se encaixa o conspirador no perfil. Sua arma não é (mais) um revólver; o agente confesso do Serviço Secreto cubano tornou-se gerente de um projeto de poder ainda não completamente desmantelado, e por isso gerenciou os vastíssimos desvios de dinheiro, entristecedores recordes nacionais, que fugiram dos cofres públicos para corromper políticos. Para agir, ele só precisa de um telefone. Sua especialidade é arranjar e trocar favores, e é exatamente isso o que fará assim que puser os pés na rua, com tornozeleira ou sem ela.

As investigações da Lava Jato passam a correr sérios riscos: na rua, este agente estrangeiro culpado de alta traição irá fazer o que puder, o que não é pouca coisa, para jogar uma chave nas engrenagens. Diz-se que, com a soltura de José Dirceu, Palocci já voltou atrás em sua intenção de delatar os companheiros de gangue. Na rua, ele tem pleno acesso a fortunas escondidas no Brasil e no exterior. Na rua, com um telefone na mão, ele tem acesso às alavancas do poder de vários países, inclusive no Brasil. Aqui, ele ainda tem a vastíssima máquina do PT que sobrevive implantada como um câncer no funcionalismo público, com milhares de agentes trabalhando a favor do partido e não do país.

A especialidade de Dirceu é arranjar e trocar favores, e é exatamente isso o que fará assim que puser os pés na rua

Que isso tenha sido feito com o luxuoso auxílio de uma dupla de ministros do Supremo que deveria ter sido considerada suspeita (ora bolas, Toffoli era subordinado de José Dirceu) torna ainda mais evidente que o que se tem é uma tentativa de salvar a máquina petista, ferida de morte pelas investigações.

Aliás, essas investigações já chegaram a outros partidos, o que é excelente. Entre corruptos e corruptores, ela teria uma grande chance de fazer uma limpa na política brasileira, semelhante à da Mãos Limpas na Itália. Mas esta soltura do mais perigoso agente da principal organização criminosa é um sério retrocesso. Trata-se de alguém que mentiu o próprio nome para a mulher com quem se casou, revelando-lhe sua verdadeira identidade apenas após a anistia. É um homem acostumado à vida dupla, às máscaras por trás de máscaras, para quem as limitações justamente impostas pelo juiz Moro são risíveis. Para todos os efeitos José Dirceu voltou a ser um ator político com plena capacidade de ação.

Urge que haja reações de protesto. É um acinte ao mecanismo judiciário e ao próprio país que o Supremo Tribunal Federal seja usado como arma contra a própria Justiça. A instituição que deveria ser a guardiã da Constituição vê-se reduzida a sucursal de organização criminosa, aparelhada e dominada. A soltura de José Dirceu é uma mancha no STF.

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