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Há uma semana o secretário-geral da ONU divulgou artigo dizendo que as promessas de Rio-92 estão longe de ser cumpridas (teria lido a coluna da semana passada?). Agora, o mesmo secretário novamente se manifestou, dizendo que o documento final da Rio+20 poderia ser mais ambicioso.

Há algo de muito errado quando o organizador de um evento é o primeiro a reconhecer sua inutilidade. Mas podemos descansar tranquilos, porque foi criado um grupo de trabalho que, eficientíssimo, resolverá toda esta barafunda ambiental; limpará rios, plantará florestas e retirará o carbono excedente do ar, prenderá os maus e saudará os bons.

Então, no longo prazo estaremos todos mortos, como dizia Keynes? Depende de qual "nós" se use. Para "nós" cada pessoa, ele está obviamente certo. Em uns 100 anos, já éramos. Para "nós" como nossa família, poderemos durar um pouco mais; para "nós" espécie humana, demorará ainda um pouco mais.

Nossa salvação pode estar em uma ideia de Richard Dawkins de que, se formos indo para trás geração após geração, não haverá um Adão e uma Eva primordiais. Não há onde traçar uma linha onde começa a espécie humana e termina a anterior. Uns 185 milhões de gerações para trás e seu 185 milionésimo tataravô é um peixe; mais umas tantas para trás e você chegará às bactérias. Aí está a "nossa" salvação.

Há vida em todos os lugares. Haloarchaea cresce em lagos salgados, chegando a ter até 37% de sal em solução, que é uma sopa parecida com aquele saleiro da praia. Igualmente, em Los Alamos uma linhagem de Pseudomonas, outro gênero de bactéria, se criou na água interna do reator, sob radiação milhares de vezes superior à necessária para nos matar imediatamente ("nós" aqui entendido como "eu"). Japoneses criaram uma variedade de Paracoccus denitrificans em uma gravidade 400 mil vezes mais intensa que a nossa, e o Mars Simulation Lab, na Alemanha, conseguiu manter um líquen em condições ambientais iguais às de Marte por 34 dias. Coloquei em meu blog (http://ambienteporinteiro-efraim.blogspot.com.br) mais informações sobre todos esses casos.

Portanto, sobreviveremos independentemente da salinização do solo, da contaminação atômica ou aquecimento global, ainda que na forma de um remotíssimo parente bacteriano. Em primeiro lugar irão os exilados do clima; depois, irão os chiques funcionários poliglotas da ONU, junto com os representantes governamentais. Os milionários irão por último, também exilados dentro de seus automóveis e casas climatizados. As bactérias, essas não irão nunca.

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