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Não era fácil viver no Brasil, e não é fácil visitá-lo. Depois de um tempo morando fora, você entende que a índole de boa parte dos brasileiros é algo a se lamentar. É gente demais tentando levar vantagem em tudo; um exército de Gérsons que acaba ocupando espaços em todos os setores da sociedade, fazendo de nosso país um campeão em desrespeito às leis, impunidade e banditismo. Felizmente, o Brasil não tem apenas Gérsons.

No último domingo eu tive de me deslocar de Campinas, interior de São Paulo, para a capital, com minha esposa, nosso bebê de 5 meses e um monte de malas. Um grande amigo se ofereceu para nos levar, e no horário combinado partimos em viagem. Uma hora depois, a cerca de 30 quilômetros do fim da Rodovia dos Bandeirantes, o carro simplesmente parou de funcionar. A inércia foi suficiente para nos levar a um posto de gasolina, e conseguimos parar no estacionamento de caminhões.

Pessoas que colocam seus interesses acima de tudo e de todos não servem para liderar outras pessoas, e muito menos para governar um país

Como tínhamos hora para chegar a São Paulo, bateu um certo desespero diante daquela situação: a primeira impressão fora de correia dentada rompida, ou seja, nenhuma chance de o carro funcionar novamente. O guincho viria, mas para levar meu amigo e seu veículo defunto de volta a Campinas. Comecei a procurar um meio de continuarmos nossa viagem. Entrei na lanchonete e perguntei às três funcionárias se conheciam algum taxista ou motorista que pudesse nos levar. A última delas me deu um papelzinho com um telefone escrito à mão: “O senhor pode tentar esse moço, o Pixote. Ele faz carreto.” Não preciso dizer que o apelido do sujeito e a palavra “carreto” não me animaram muito, mas mesmo assim liguei para o Pixote, e ninguém atendeu. Continuei minha busca.

Andando até os frentistas, perguntei se conheciam algum taxista da região. Um deles me indicou o “seu Sérgio”, e fez a gentileza de ligar para o mesmo utilizando o telefone do posto. Seu Sérgio me disse que nos levaria pela bagatela de R$ 220, e que iria até o posto para ver se as malas caberiam no carro. Como eu tinha certeza de que não caberiam, pois ele me informara que o veículo era um Fiat Siena, fui até minha esposa e lhe disse que ficaríamos ali por algum tempo, até que eu conseguisse resolver a situação. Ela aproveitou e foi dar mamadeira para o nosso bebê.

Quando voltei ao carro, onde meu amigo aguardava pelo guincho, percebi um outro carro ao nosso lado, com apenas uma pessoa dentro. Num impulso, abaixei-me e perguntei ao homem que estava ao volante: “Com licença, você por acaso está indo para São Paulo?” Ele me respondeu que sim. Continuei: “Se eu pagar o que o táxi está me cobrando, você nos levaria para a casa da minha sogra, na Zona Leste?” A resposta foi inesperada: “Não precisa me pagar nada. Eu ajudo você e sua família a chegarem a São Paulo. Pode colocar suas coisas aqui e eu levo vocês”. Corri para dizer à minha esposa que tinha conseguido alguém para nos ajudar – recebi como resposta um “você está louco?” – e, depois de convencê-la de que era muito pouco provável que aquele homem nos matasse e roubasse nossas malas cheias de roupinhas de criança, carregamos o carro e fomos embora. A viagem foi bastante agradável, e tive a oportunidade de conhecer um pouco do Acácio, esse brasileiro tão fora do normal por fazer algo que deveria ser corriqueiro. Ao fim, quando insisti novamente em lhe pagar algo, Acácio me disse simplesmente “Não precisa mesmo; se um dia aparecer alguém assim na sua frente, apenas faça o mesmo”.

Precisamos de mais Acácios – nas escolas, na política, nas empresas, nas igrejas, nos tribunais, na mídia – para neutralizar os Gérsons que pilham e destroem a nação. Pessoas que colocam seus interesses acima de tudo e de todos – um comportamento típico da psicopatia – não servem para liderar outras pessoas, e muito menos para governar um país.

Acácios, uni-vos.

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