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Terminados os jogos olímpicos, o Brasil se volta para o assunto óbvio: as eleições. Candidatos a vereador pipocam a cada esquina, tanto nas reais como nas virtuais, e as matérias sobre os concorrentes às grandes prefeituras aparecem diariamente nos jornais e portais de notícias.

Época de eleições é também época de uma das coisas mais inúteis de nossos tempos, a pesquisa eleitoral. Aqui nos Estados Unidos, a mídia tradicional aponta todas as suas armas para Donald Trump, com base nos resultados de diversas pesquisas. Esquecem-se de mencionar que Reagan e Bush tinham números iguais ou piores na mesma etapa do processo eleitoral, mesmo assim foram eleitos com tranquilidade. No Brasil, temos alguns institutos de pesquisa que acertam menos do que aqueles gurus de virada de ano.

Lembremos das eleições de 2014. Na última fornada de pesquisas antes do pleito presidencial, um dos institutos mostrava 26% das intenções de voto para Aécio Neves. O candidato obteve 33,6% dos votos, um resultado completamente fora da margem de erro da pesquisa e também de qualquer explicação lógica e estatística. Pior ainda foi o resultado do mesmo instituto para o governo do Rio Grande do Sul. A pesquisa dizia que José Ivo Sartori tinha 29% das intenções de votos, e o candidato chegou a 40,4% dos votos, um erro ridículo de mais de 30%. Até uma cartomante caolha chegaria a um resultado mais próximo.

O próprio conceito de “voto útil” que é tão presente no eleitor brasileiro em geral, aquela ideia de “não jogar o voto fora”, é um ponto que considero bastante negativo

O interessante é que os candidatos e partidos têm em suas mãos pesquisas muito mais precisas. Sei disso por experiência própria: no ano de 2008, participei ativamente das eleições municipais numa cidade do interior de São Paulo. Além de concorrer a vereador, estive envolvido de perto na campanha para prefeito. Na época, o candidato da situação tinha uma relação muito próxima com um instituto local, cujas pesquisas o mostravam à frente com uma boa margem. Na última semana antes do pleito, chegou até nós o resultado de uma pesquisa interna, feita por um instituto de confiança, que mostrava a vitória do nosso candidato com 40,5% dos votos. O resultado oficial foi de 42%.

A pesquisa é uma aplicação da estatística, uma ciência exata e geralmente pouco compreendida pela maioria das pessoas. O problema é que os mesmos dados podem ser manipulados de diversas formas, e auditar um trabalho desses seria custoso e demorado. Imagine auditar todos eles.

Se as pesquisas divulgadas ao público erram mais do que acertam, e as pesquisas mais precisas são divulgadas apenas internamente, para que você precisa da pesquisa? Em minha opinião (e este é um artigo de opinião), para nada. O próprio conceito de “voto útil” que é tão presente no eleitor brasileiro em geral, aquela ideia de “não jogar o voto fora”, é um ponto que considero bastante negativo. O que as pesquisas fazem é mexer com a cabeça de quem vota assim. Afinal, se fulano escolhe o candidato exclusivamente por suas propostas e vida pública, o que importa se ele está um, dois ou dez pontos atrás do outro? Pode parecer inacreditável, mas uma das coisas que mais ouvi quando fiz campanha porta a porta foi “não quero votar em quem vai perder”. Ora, estamos falando de eleição ou de uma corrida de cavalos?

Enfim, nestas eleições não poderei votar, pois quem mora no exterior vota apenas para presidente. Mas, se pudesse, votaria sem levar as pesquisas em consideração. Fica a sugestão

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