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 | Henry Milleo/Gazeta do Povo
| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

Anos atrás tomei conhecimento da obra Professor não é educador, do professor Armindo Moreira, na qual esclarece que educar e instruir são ações diferentes. Ou seja, é perfeitamente possível encontrar um analfabeto muito bem educado e um pós-doutor muito do mal educado. Essa distinção é fácil de perceber quando observamos crianças. Quando dizemos que fulaninho é “bem educado”, nem passa pela nossa mente o que consta do boletim escolar dele, não é? É óbvio, mas chegamos à época profetizada por Chesterton, em que temos de dizer que a grama é verde. O óbvio, assim, espanta. Recomendo a leitura do livro, vai direto ao ponto.

Lembrei-me dele com os resultados divulgados do último Pisa, teste internacional para avaliação comparada da aprendizagem de leitura, matemática e ciência de alunos que estão encerrando seu ciclo escolar no ensino médio. Nenhuma novidade, o Brasil se manteve nas últimas colocações. Esse último resultado é mais significativo que os demais, porém, pois o teste começou a ser aplicado no ano 2000; portanto, é o primeiro que permite avaliar o sistema de ensino no seu “longo prazo”.

Dissociar educação de instrução é a melhor maneira de começar a recuperar o sistema de ensino

Das várias conclusões que se pode tirar, a mais importante é a derrubada do mito de que o problema do sistema de ensino é falta de dinheiro. Ora, a quantidade de dinheiro investida nos últimos 16 anos foi muito superior a tudo que se tinha investido antes e o resultado foi pífio. Portanto, se isso, por óbvio, ajuda, também por óbvio não resolve. Analisando os resultados, constata-se que o grosso do problema está na rede pública estadual e municipal, pois as redes privada e federal ficaram na média, senão acima, dos demais países da OCDE avaliados. Já essa rede pública estadual e municipal, que compõe mais de 80% do sistema, saiu-se pior que o Brasil como um todo.

Entretanto, parece haver luz no fim do túnel. Considerados apenas os resultados da rede federal, igualmente pública, os índices são excelentes. Em Ciências, por exemplo, os alunos da rede federal tiveram desempenho superior à média, ganharam até dos alunos da Coreia do Sul, referência constante na área. Em Leitura foram melhor ainda, ficando abaixo apenas de Cingapura. Em Matemática, ficaram na média da OCDE, mas acima, por exemplo, de EUA e Espanha. Infelizmente, isso não representa nem 2% do sistema de ensino, mas já é alguma coisa.

Qual o segredo da rede federal? É preciso pesquisar mais detidamente, mas certamente tem a ver com o fato de o seu ensino ser profissionalizante, técnico, o que significa dizer que há menos confusão entre educação e instrução. Os alunos, ali, estão sendo qualificados para o mercado de trabalho, com toda aquela patacoada de “formar cidadãos”, fomentar “consciências críticas” etc. ficando em segundo plano. É a prova de que dissociar educação de instrução é a melhor maneira de começar a recuperar o sistema de ensino, que foi feito, como o próprio nome diz, para ensinar, não educar.

Quanto à educação, já quase ninguém sabe direito o que é e para que serve, mas, como a grama é verde, continua sendo dever dos pais, da família. A escola pode colaborar, mas jamais ser a condutora desse processo. Infelizmente, faz tempo empurramos nossos filhos à escola esperando que esta os eduque. Depois amortecemos nossa consciência culpada gritando por “mais escola, menos prisão”. Não funcionou, nunca funcionará.

Mas como pais mal educados seriam capazes de bem educar seus filhos? Eis a tragédia maior. Mas há solução, desde que se enxergue o problema.

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