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| Foto: Joseph Eid/AFP

O Líbano conquistou sua independência em 1943, abraçando um ideário querido para muitos ocidentais de hoje. Nasceu como um país multicultural, aberto, tolerante. Muçulmanos de outros países enviavam seus filhos para estudar nas universidades libanesas, as melhores do Oriente Médio. Na economia, era uma espécie de capital bancária da região, uma “Suíça do Oriente Médio”, como era visto; no turismo, tinha em Beirute a chamada “Paris do Oriente Médio”. Era lindo, como caetanaria Gilberto Gil.

Era um país de maioria cristã naquela época: em torno de 54%, seguida dos muçulmanos, que, porém, tornaram-se maioria em pouco tempo. Primeiro, pela natalidade. Homens muçulmanos tinham mais de uma esposa e era comum terem dez ou mais filhos, enquanto o restante da população nem de longe chegava a esse número. Não demorou e já na década de 1960 eram maioria. Segundo, pela aceitação de refugiados. No início dos anos 1970, refugiados palestinos vindos da Jordânia, principalmente, foram recebidos no país, no que ficou conhecido como a “Terceira Onda de Refugiados”. Nenhum outro país os aceitou, nem mesmo os de maioria muçulmana – como hoje acontece também com os refugiados sírios, a propósito.

A partir da entrada dos refugiados no Líbano, os muçulmanos declararam guerra aos cristãos e uma guerra civil estourou em 1975

A partir dali, as coisas começaram a mudar. Brigitte Gabriel, famosa jornalista e escritora libanesa, nascida em 1964, conta que a partir da entrada desses refugiados os muçulmanos declararam guerra aos cristãos e uma guerra civil estourou no país em 1975, quando um refugiado palestino invadiu uma igreja durante uma missa de domingo, atirando sem olhar a quem, matando quatro pessoas e ferindo mais de 100. Brigitte, que era cristã, foi morar com seus pais num abrigo antibombas. Não tinham eletricidade, comida, nem água. Para conseguir comida e água precisavam sair do abrigo com muito cuidado, pois os muçulmanos espalharam franco-atiradores por toda a região, esperando os cristãos escondidos saírem para matá-los. Eles tinham de rastejar para chegar a uma fonte de água e ir encontrando alguma comida pelo caminho. Toda vez, antes de sair, se despediam uns dos outros, porque não sabiam se voltariam.

Quando eram descobertos, sofriam todo tipo de horror. Há relatos de bebês tendo uma perna amarrada na mãe e outra perna amarrada no pai, que eram obrigados a caminhar em direções opostas até que a criança fosse rasgada ao meio. Nas igrejas, defecavam e urinavam nos altares, limpando-se com a Bíblia, antes de incendiarem tudo. Brigitte só sobreviveu porque Israel veio em auxílio, conquistando a cidade em que se encontrava escondida com sua família. É com base na sua experiência pessoal e trabalho de pesquisa e estudo que publicou dois livros considerados best-sellers: Because They Hate (“Porque eles odeiam”) e They Must Be Stopped (“Eles têm de ser contidos”) – nenhum deles traduzido ainda. É consultada constantemente pela imprensa, seja de direita, como a Fox News, seja de esquerda, como a CNN, e defende as medidas tomadas por Donald Trump contra a imigração ilegal e o terrorismo islâmico.

A guerra civil libanesa durou até 1990. Desde então a paz na região é tão sólida quanto no restante do Oriente Médio. Não há mais Suíça nem Paris do Oriente Médio, nem perspectiva de isso voltar a acontecer. Ainda bem que isso jamais acontecerá à Suíça e Paris originais, pois, mesmo que um dia os muçulmanos se tornem maioria na Europa, jamais começarão uma guerra contra quem não é muçulmano. Eles aprenderão com nosso multiculturalismo, vocês verão. O problema é esse louco do Trump. Esse não dá pra tolerar.

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