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Não, neste dia 25 não comemoramos o “aniversário” de Jesus. Aí ele seria bem mais novo que o Raul Seixas, tendo nascido apenas há 2016 anos atrás. Mas Jesus tem tanto 2016 anos quanto todos que antecederam sua encarnação. É o tempo que é contado em função de Jesus, não o contrário. Ou seja, o Natal não é uma data, mas um acontecimento eterno no nosso tempo de relógios e calendários. Por isso não recordamos o nascimento de Jesus, testemunhamos sua vinda. Jesus Cristo nasceu ontem, hoje também, sempre agora, por ser Eterno.

É complicado de entender esse negócio de Eternidade, eu sei. Talvez porque queiramos mais compreender do que vivê-la. Faça a experiência de recordar, lembre do fim de semana que acabou de passar, por exemplo. No tempo do relógio, já terminou, é passado, mas no da sua memória não: está presente no aqui e agora, ainda que de modo diferente, como imagem. A própria noção de aniversário ajuda aqui. Não celebramos aniversário de pessoas importantes que já morreram?

É complicado de entender esse negócio de Eternidade. Talvez porque queiramos mais compreender do que vivê-la

Então, há coisas que não são limitadas pelo tempo que só faz passar. Quem nasceu nunca mais “desnascerá”, nem sua morte apaga isso. É um acontecimento para sempre, inclusive se ninguém se lembrar. Teve começo, mas não tem fim. Fala a verdade, não é tão difícil assim perceber que há um tempo que não se esgota quando termina, não é? Ainda que estejamos longe do mistério do Eterno, já que ele tampouco tem começo, a experiência de recordar é suficiente para nos darmos conta do quanto vivemos em mais de um tempo.

Mas o Natal é vivido diferente até mesmo no tempo do relógio. Neste, dura oito dias. Sabia não? Pois dura, daí ser chamado de Oitava do Natal. Nela a Igreja celebra Santo Estevão, seu primeiro mártir (neste dia 26), São João Evangelista, depois os Santos Inocentes, que são as crianças martirizadas por Herodes, também a Sagrada Família, culminando com a solenidade de Maria, Mãe de Deus, no primeiro dia do ano novo. Pela coincidência – ou não – de o calendário do nosso tempo reservar esta mesma semana para pararmos, literalmente, tudo e “descansar”, temos uma oportunidade única de viver um pouco no Eterno durante o tempo do Natal.

Ainda que você esteja trabalhando, certamente não está no mesmo ritmo, não é? Aposto até está lendo isso daqui aí no seu trabalho, confesse. O tempo não parece ter parado? Pois então, esta semana que parece a mais morta do ano é, pelo contrário, a mais viva e rica de todas. Nela, quem já não faz um balanço do ano que se passou? E quem já não tenta programar o próximo que vem por aí, estabelecer metas etc.? Mas por que se prender apenas ao passado e futuro próximos? Por que não avaliar o que foi e o que se deseja à luz do que nunca passa e já se tem? Larga tudo aí e presta atenção Nele, vai, é tempo favorável para isso, cheio de graças.

Peço licença para dar um testemunho pessoal disso. Perdi meu pai em uma Oitava de Natal anos atrás. Como para um cristão a morte é somente para este mundo, não para o Céu, tendo Deus lhe chamado em período de tantas graças não só me conforta, acho até um privilégio. Sim, sou grato a Deus por isso, especialmente por isso. Porque depois que Ele levou meu pai, só tenho a Ele por pai. Não peço me entenda, nem eu entendo, nem quero, não preciso. Que importa? Tudo é graça, mesmo na desgraça. Enfim, como disse Chesterton, o apóstolo do senso comum, “os mistérios de Deus são mais satisfatórios que as soluções humanas”.

Aproveite bem o tempo de Natal, caro leitor, e até ano que vem.

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