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A postura científica é aposta à dogmática. Dogmas levam pessoas a manter crenças contrafactuais. A ciência não pugila com os fatos. Para ela, os fatos são rígidos e o pensamento, flexível. O dogmata nega ou contorce os fatos para que eles se encaixem nos seus apriorismos. Age dessa maneira para manter a integridade conceitual de suas crendices. As religiões são a expressão mais completa de dogmatismo, embora, com menor intensidade, haja rigidez de pensamento e plasticidade da realidade em todas as atividades humanas.

Por desídia se prefere a facilidade de não pensar sobre tudo que acontece. Bastam algumas ideias preconcebidas e toca-se em frente a vida. Se alguma situação parece meio estranha, é mais fácil fazer de conta que não existe ou interpretar de modo a conectá-la sem problemas àquilo que já temos pronto como explicação para o mundo.

O socialismo real inibiu – manu militari – a competição econômica e política; o capitalismo real (existente em poucos lugares) estimula ambas as competições. Ambos são antinaturais

A postura dogmática é forte nas pessoas que fazem muita militância partidária e pensam pouco. Agem de modo semelhante à religião e, em alguns momentos, mesmo diante da clareza solar dos fatos, aferram-se aos dogmas e distorcem a realidade. Vivemos momento típico de negação/distorção dos fatos para manter as explicações ideológicas intactas, como se elas estivessem certas e os fatos, errados.

A questão de fundo a merecer visão científica e não dogmática, por parte da militância partidária de qualquer matiz, é a do bom ou do mau selvagem; do humano cooperativo ou competitivo. Por certo, ao observar os fatos, o enunciado que melhor descreve a realidade é que os humanos são competitivos e cooperativos, conforme os interesses que tenham em cada ocasião.

No socialismo puro só há cooperação; no capitalismo puro, competição. Ocorre que não existem formas puras na rotina dos acontecimentos. O socialismo real inibiu – manu militari – a competição econômica e política; o capitalismo real (existente em poucos lugares) estimula ambas as competições. Ambos são antinaturais, porque inibir a competição é ofender a natureza humana; estimular é desnecessário.

Falece suporte teórico aos “intelectuais orgânicos”, atolados no século 19 e começo do 20, sem incorporar as constatações e as teorias que germinaram a partir da contribuição de Darwin. Nas pesquisas de matriz darwiniana, a cooperação deu ensejo ao conceito de altruísmo recíproco, desenvolvido para explicar o mutualismo constatado pela biologia no reino vegetal e no animal. Consiste na aceitação de ônus, que resulta em bônus para outrem, com a expectativa de que no futuro próximo ou mediato o beneficiário retribua a quem lhe ajudou outrora. Das ciências “duras”, o conceito saltou para as ciências sociais.

Joseph Heath, ao discorrer sobre a busca “psicopata” pelo lucro, faz indagação que vale para o seu país de origem, o Canadá, e para o Brasil: por que há poucas cooperativas de trabalhadores se existem tantos incentivos legais a elas? Os cooperados devem ter o mesmo bônus independentemente da antiguidade, esforço, conhecimento, habilidades? A complexidade das respostas exige postura não dogmática.

Crer dogmaticamente no bom ou no mau selvagem é irracional. Alguma dose de racionalidade (postura científica) na política é bem-vinda.

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