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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

Em artigo espirituoso, a analista Dora Kramer ligou a situação atual aos albores da Nova República, há 30 anos: inflação alta, déficit público disparando, base aliada debandando, presidente rude no trato e com dificuldade para encadear frases inteligíveis. João Figueiredo de saia.

Chiste que flutua pela internet diz que estamos nos anos 90 porque a Polícia Federal vasculha a casa de Collor, Arnold Schwarzenegger protagoniza o Exterminador do Futuro, Jurassic Park está em cartaz, o Lula fala mal do governo e, como sempre, a inflação empobrece os brasileiros e o desemprego angustia as famílias.

Todos os governantes prometem o futuro. Continuamos no passado. Ou, de modo mais poético, o futuro repete o passado. Em prosa ou poesia, tudo se move para ficar parado e Stefan Zweig ganha tom premonitório com a ideia do Brasil como país do futuro que nunca chega. Tábido, o colosso tartamudeia grandiloquências irrelevantes e remanesce no chão em companhia dos vizinhos. Solidariedade na mediocridade tediosa de tão renitente.

Stefan Zweig ganha tom premonitório com a ideia do Brasil como país do futuro que nunca chega

Olho para as manchas senis no dorso das mãos que cobrem o teclado enquanto os dedos – os dez – premem as teclas. Essa visão me dá certeza de que o tempo passou e o cenário permaneceu enquanto os atores envelhecem encenando o mesmo script. O editorial da Gazeta do Povo do dia 23 aberto sobre a mesa me confunde, fala em reserva de mercado pela Lei de Informática. Repasso a leitura e 2015 está impresso nitidamente. Ops, não enlouqueci, creio.

Oitenta países avençaram tratado que exonera de tributação o comércio internacional de produtos de tecnologia avançada, tornando-os mais acessíveis a bilhões de pessoas. Nós, obviamente, estamos de fora. As desculpas são as repetidas até onde a memória alcança: proteger a indústria nacional que iria à bancarrota se exposta à concorrência. Parece argumento plausível, porém o mercado cativo existe há décadas e não houve desenvolvimento industrial apto a se expor à competição mundial. Será que o protecionismo serve ao interesse nacional ou aos particulares que vendem “carroças”?

Talvez a indagação seja maniqueísta, exigindo resposta incapaz de alcançar todas as nuances da questão. Possivelmente os empresários brasileiros sejam os mais oprimidos do mundo. Na Venezuela e quejandos são reprimidos; aqui são tratados como estorvo inevitável. Assim, em vez de estimular a iniciativa empresarial, o ambiente econômico, jurídico, cultural a inibe. Claro, onde há dificuldades artificiais, as facilidades estão disponíveis aos amigos do rei, como se vê à larga no rol dos beneficiários do trilhão de reais que o BNDES incinerou na pira dos “campeões” na última década.

O remédio para a idiotice política é a burrice econômica? Colômbia, Nova Zelândia, Austrália, Peru, Rússia, Índia, Vietnã estão errados na decisão de abrir seus mercados a mais de 200 itens de alta tecnologia? Todos marcham errado e apenas nós no passo certo?

Os signatários do tratado representam 97% do comércio mundial de produtos de TI. Os 3%? Bem, esses são o passado.

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