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Daqui a 20 ou 30 anos, se a cultura brasileira conseguir sobreviver ao processo de esvaziamento espiritual que a vem degradando continuamente, o filósofo Olavo de Carvalho será lembrado como o grande líder intelectual das últimas gerações. Ainda que a mentalidade revolucionária espalhe o seu domínio absoluto sobre todos os campos do saber, sempre haverá alguém para afirmar – talvez não em voz alta, por causa da patrulha – que o célebre autor de O Imbecil Coletivo resistiu corajosamente à marcha do nosso país rumo ao brejo da barbárie ideológica.

Desde 1994/95, quando lançou os fundamentais A Nova Era e a Revolução Cultural e O Jardim das Aflições, Olavo de Carvalho tem sido uma referência para quem acredita na cultura como expressão dos mais altos valores espirituais de um povo. De 3 a 7 de junho, o professor Olavo reuniu, na sua casa-biblioteca em Richmond (EUA), cinco escritores para discutir a degradação cultural brasileira e os rumos da literatura em língua portuguesa.

Para descobrir se há luz no fim do túnel, ou mesmo se existe um túnel, estiveram em Richmond o crítico literário Rodrigo Gurgel, o cientista político e jornalista Bruno Garschagen, o poeta e ensaísta Ângelo Monteiro e o professor e filósofo português Miguel Bruno Duarte. Este cronista também teve a honra de ser convidado. Lá, ouvi muito mais do que falei; aprendi muito mais do que expressei; testemunhei muito mais do que contribuí.

De certa forma, o encontro em Richmond foi o ápice de uma trajetória iniciada há 18 anos – no tempo em que eu lia escondido os artigos de Olavo, sem ter coragem de confessá-lo aos meus colegas de militância política. Graças a ele, e aos autores que ele indicava, abandonei todos os resquícios da minha mentalidade revolucionária – as escamas dos olhos e os tampões dos ouvidos.

No Evangelho de Mateus, temos a preciosa imagem do grão de mostarda. É a menor entre as sementes da terra, mas se torna a maior das hortaliças, e cria grandes ramos, de tal maneira que as aves do céu podem aninhar-se debaixo de sua generosa sombra. A vida de Olavo é plantar essa semente.

Vivemos tempos difíceis. Tempos profetizados por Gustavo Corção, nos quais "a atividade impera sobre a contemplação, o apetite domina o juízo, a opinião substitui a verdade". Mas a existência de um pensador como Olavo de Carvalho nos faz ter a certeza de que as portas do inferno não prevalecerão. Não é por acaso que o nome Olavo quer dizer "o sobrevivente". Já achamos o túnel; procuremos a luz. E que não seja a luz de um ônibus ou um dentista em chamas.

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