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 | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

A agenda pública nacional, tanto nos meios políticos em todas as unidades da Federação quanto nas instituições privadas da sociedade, tem sido dominada por dois grandes temas: a imensa crise política e a rede de operações contra a corrupção. Os dois temas se misturam, sobretudo porque os agentes púbicos e privados envolvidos nas operações policiais e nos processos judiciais contra a corrupção são os mesmos atores da crise política e eleitoral na qual o país mergulhou de forma profunda. As duas crises – a política e a jurídico-moral – estenderam seus tentáculos sobre os partidos políticos e destruíram o processo eleitoral, ao ponto de a nação estar prestes a entrar na campanha eleitoral do ano que vem com praticamente todos os partidos e seus caciques enfiados, em maior ou menor grau, nos atos criminosos de corrupção e desvio de dinheiro público, sempre em conluio com empresários não menos imorais.

Embora o desenrolar dos processos possa ser visto com otimismo – no sentido de que se está revelando a podridão dos hábitos políticos mancomunados com organizações privadas e apontando para eventuais punições –, o sequestro da agenda nacional por esses dois grandes temas jogou para o lado a questão mais essencial para o progresso material e a melhoria do bem-estar social, que é a economia e seus aspectos. A convivência em segundo plano de problemas como a recessão, o desemprego e a falência financeira dos municípios, dos estados e da União vem contribuindo para dificultar a compreensão de que aqui está outra grande tragédia brasileira.

Se o país quiser encurtar o caminho entre os estragos e as soluções, é preciso dar toda a atenção necessária aos dramas econômicos

A crença de que o povo brasileiro é capaz de conviver de forma passiva com pobreza, atraso e mazelas econômicas e sociais não é expressão de virtude, mas de grave defeito. A solução de um problema começa com a identificação de sua substância, passa por entender suas causas e termina por não aceitar sua continuação e agir para a busca de resoluções. A passividade é ruim à medida que contribui para a permanência do mal e a demora em seu enfrentamento. A despeito de outros temas que merecem ser mencionados, uma agenda nacional sólida deve conter esses três enormes flagelos sociais: a queda do Produto Interno Bruto (PIB), o elevado desemprego e a falência financeira do setor público. Permeando esses grandes flagelos estão algumas questões já postas no debate nacional, como o rombo da Previdência Social pública e privada, a gigantesca dívida pública e a baixa taxa de investimentos.

No entanto, a política contamina e sufoca a economia no Brasil de hoje. Basta passar os olhos pelas manchetes principais dos jornais para notar a predominância da tragédia política, moral e jurídica. Não por acaso: se esses temas se eternizam como destaques do noticiário nacional, isso ocorre graças à capacidade dos agentes políticos em produzir crimes e distorções que, enquanto durarem, vão jogando o país cada vez mais no atraso, na pobreza e no desemprego. Não se trata, simplesmente,de mudar a ordem da agenda nacional, já que a crise política e a rede de crimes não estão no topo da agenda por acidente, mas como reflexo da tragédia real que acometeu as estruturas de Estado, os partidos, seus políticos e uma lista de empresas privadas vinculadas ao governo. Trata-se de trazer ao topo da agenda os temas econômicos que estão na base da pobreza e do desemprego.

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Não se pode descuidar da preocupação com as crises política e jurídico-moral, mas, se o país quiser encurtar o caminho entre os estragos e as soluções, é preciso dar toda a atenção necessária aos dramas econômicos, especialmente ao drama dos 14 milhões de desempregados.

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